terça-feira, julho 31, 2007

A noticia e seu Contexto

por Anderson Farias - Blog Minha Politica


A FGV divulgou hoje um índice que mede a confiança da indústria brasileira e, como vem ocorrendo seguidamente nos últimos anos, esse índice apresentou o melhor resultado da história. Os industriais estão 15,8% mais confiantes em relação aos seus negócios que no ano passado.

Diversos outros índices positivos são divulgados rotineiramente por institutos oficiais e privados, de credibilidade indiscutível, como IBGE, FGV, FIESP, IPEA, CNI, etc, mas não são divulgados pela grande mídia com o destaque merecido, salvo quando indicam tendências negativas.

Como sei que é muito difícil, ou no mínimo trabalhoso, termos acesso a esse tipo de informação através da nossa mídia, autodenominada apolítica e imparcial, me dei ao trabalho de garimpar alguns deles, escondidos em links espalhados pela internet.

Destaco que me limitei a utilizar os links escondidos nos portais pertencentes a grande mídia, como UOL, Estadão, Folha, Globo, entre outros. Também tentei encontrar alguma referencia positiva no site da Veja, mas como não sou mágico, não obtive sucesso... De qualquer modo, seguem alguns dados interessantes:

  • Geração de Empregos: Os dados do CAGED mostram que o Brasil apresentou saldo de 1,1 milhão de empregos formais no primeiro semestre de 2007 (o saldo do semestre se refere à diferença entre a criação de 7,3 milhões de vagas e o fechamento de 6,2 milhões). Este número representa um crescimento de 18,6% em relação ao mesmo período de 2006. O recorde histórico, que deve ser superado esse ano, foi registrado em 2004, quando chegou a 1,526 milhão de novos postos de trabalho (fonte: UOL e Folha de São Paulo).
  • Massa Salarial: apresentou crescimento significativo nos últimos anos e continua com perspectiva de crescimento para 2007, segundo estudo recente do departamento de pesquisa e estudos econômicos da FIESP. Em 2005 e 2006, a massa salarial cresceu em termos reais, respectivamente, 7% (o maior aumento em 9 anos) e 6%, segundo dados do IPEA (fonte: Valor Econômico).
  • Consumo das Famílias: de acordo com o IBGE o consumo das famílias cresceu 3,8% em 2006, a terceira alta anual consecutiva. Para 2007 o índice possui tendência de crescimento superior ao ano passado (fonte: O Globo).
  • Crédito para Pessoa Física: em 2006, o crédito à pessoa física cresceu 23,4%, segundo a Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN), e deve aumentar outros 22,5% sobre essa expansão este ano (fonte: Folha de São Paulo).
  • Lucro das Empresas do Setor Produtivo: O lucro das grandes empresas mais que quadruplicou no primeiro mandato do governo Lula em relação ao segundo mandato de FHC, superando em muito a rentabilidade dos bancos. A soma do lucro líquido das 227 principais empresas do setor produtivo com ações negociadas em Bolsa cresceu R$ 102,4 bilhões, o que representa um salto de 349,8% em relação ao governo anterior (fonte: Estadão).
  • Utilização da Capacidade Instalada da Industria: A atividade industrial está em alta no país. O nível de utilização da capacidade instalada do setor atingiu 84,9% em julho — o maior para esta época do ano desde 1980. Com ajuste sazonal, o nível de uso da capacidade ficou em 84,5%, acima dos 83,7% em abril. É o que mostrou a Sondagem Conjuntural da Indústria de Transformação, divulgada ontem pela Fundação Getulio Vargas (FGV). Na pesquisa, feita a cada três meses, foram consultadas 935 empresas 22entre os dias 29 de junho e 27 de julho (fonte: O Globo).
  • Vendas do Comércio: No ano, o comércio acumula expansão de 4,6% nas vendas e de 6,2% na receita. Em relação ao mesmo período de 2006, o crescimento atinge 10,5% no volume de vendas e de 11,4% em termos de receita. Na comparação com o mesmo mês de 2006, houve avanço no volume de vendas de todas as atividades. (fonte: Folha de São Paulo)
  • Exportações: As exportações brasileiras mais do que dobraram nos últimos 4 anos, aumentando a participação do Brasil no comércio mundial de 0,8% para 1,3%, um crescimento de mais de 30% (fonte: UOL Economia).

Claro que eu poderia listar outros índices, como o crescimento do salário mínimo, a redução da pobreza, a melhora na distribuição de renda, etc. Mas como meu tempo para pesquisa é limitado e esses temas são muito mais difíceis de encontrar na grande mídia, acredito que os temas listados acima já são suficientes para pensarmos um pouco, uma vez que são os de maior interesse da classe média, a massa de manobra da grande mídia no Brasil.

Em resumo, o consumo das famílias está crescendo de forma continua, os salários estão aumentando acima da inflação ano após ano, a geração de empregos é recorde, os lucros das empresas do setor produtivo estão crescendo como nunca, as exportações idem. A inflação está controlada, os juros estão no menor patamar da história e com tendência de queda e de forma geral, o mercado projeta forte crescimento do PIB para os próximos anos.

Em meio a tudo isso, a grande mídia se faz de boba e foca única e exclusivamente noticias negativas ao atual governo, nem sempre relevantes, como as vaias do PAN, a infeliz declaração da Marta Suplicy, o gesto de Marco Aurélio Garcia, etc. Destaco aqui que não defendo a não divulgação, mas sim condeno a exploração excessiva e exagerada desses assuntos em detrimento a outros mais relevantes.

Aliás, falando em Marco Aurélio, na última semana a Globo se superou e chegou ao cúmulo de colocar uma câmera escondida para gravar a reação privada de um membro do governo a uma reportagem do JN, onde se verificava que o acidente não era culpa do governo, como vinha sendo vendido como verdade absoluta desde momentos após a tragédia.

Imaginem quantas câmeras foram espalhadas por Brasília com o intuito único e exclusivo de constranger o governo. Enfim, como todos viram na seqüência, o fato do acidente ter sido causado por falhas do piloto e da aeronave ficou em segundo plano. A grande mídia preferiu desviar a atenção das reais causas para o gesto do assessor de Lula, mostrando repetidamente as imagens, com o claro intuito de manter na mente das pessoas a primeira versão divulgada sobre o acidente, ou seja, a culpa é do governo.

Todas as notícias negativas, que dominaram os espaços da grande mídia nos últimos meses, ocorreram paralelamente à divulgação dos dados positivos que citei mais acima. No entanto, como eu já disse anteriormente, tive que garimpar no “underground” dos portais o noticiário positivo ao governo, enquanto que, para se ver o negativo basta ligar a TV, o computador ou passar em frente a uma banca.

Como se pode ver, o fato de dificilmente se encontrar noticias positivas na grande mídia, pelo menos em forma destacada, não se deve a não existência das mesmas e sim ao critério seletivo que esta vem adotando nos últimos anos. Para quem acha um exagero faça o seguinte teste, entre no Google News e faça duas buscas: (1) marta suplicy "relaxa e goza" e (2) aumento "consumo das famílias". Por mais incrível que possa parecer, a declaração da ministra mereceu muito mais destaque que a melhora de qualidade de vida da população. Convenhamos que, por mais infeliz que tenha sido a declaração (cuidadosamente retirada do contexto), não mereceria mais que um ou outro comentário.

Cada vez mais, fica clara a lavagem cerebral que a grande mídia submete as pessoas sem senso critico através da manipulação da informação. Cada vez mais fica clara a intenção dessa campanha de difamação em curso.

Nesse contexto, cabe a cada um ler as coisas com cuidado, analisar a repercussão dada pela grande mídia a cada assunto, analisar quais são os interesses por trás de cada novo escândalo fabricado. Passe a tentar relacionar a cobertura e o enfoque dados a certos acontecimentos com temas e efeitos parecidos quando estes envolvem diferentes interesses, pessoas e partidos políticos.

Fica o tema para meditação, será que podemos confiar em uma mídia que seleciona e manipula as informações de acordo com os seus próprios interesses?

segunda-feira, julho 30, 2007

Analise Perfeita de Luis Nassif

O anti-lulismo e a anti-mídia
por Luis Nassif

A entrevista de Roberto Civita ao Jornalistas&Cia comprova a máxima: de onde nada se espera, nada vem. O que se tem, de um lado, é a grande imprensa apostando na radicalização. Perdeu o poder de derrubar presidentes; manteve o poder de influenciar amplas camadas na classe média.

É uma orquestração, que persiste há algumas décadas, e que só agora começa a sofrer algumas trincas dos novos meios de comunicações.

Há os veículos-âncora, que dão o tom e o toque. No momento, é o “Jornal Nacional”, jornal “O Globo” e a “Veja”. Depois, um subconjunto de grandes veículos que repercute: o “Estadão”, que, de qualquer forma, ainda tem uma linha própria; e a “Folha” que há alguns anos abriu mão de ser âncora para ir a reboque da “Veja”. De vez em quando se sente a “Folha” tentando recuperar o espaço perdido. Como o espaço que deixou não foi ocupado por ninguém, um pouquinho de racionalidade e de capacidade de pensar grande poderá trazê-la de volta ao eixo original.

Parte relevante dos colunistas políticos, e até de Variedades, continua prisioneira da “síndrome da indignação”. É uma armadilha que sempre pega gente mais insegura. O sujeito quer se identificar com seu leitor. Para tanto, tem que demonstrar indignação, indignação e indignação. Não lhe ocorre trazer explicações, análises. O que vale são os decibéis, que o igualam ao leitor. Tem audiência. No tempo de FHC, lembro-me de conversas com alguns colegas – que batiam diariamente em FHC – e que diziam que, no dia em que ficavam mais calmos, os leitores reclamavam.

Esse estilo me embrulha o estômago há muito tempo. Não existe nada mais fácil e demagógico do que a indignação reiterada. A indignação é virtuosa quando isolada, quando a pessoa identifica um fato não notado e expressa sua indignação. É a maneira de chamar a atenção para o que não foi visto, é a expressão da surpresa, do espanto ante o inusitado. Quando se entra no “coral dos indignados”, na maratona de quem consegue ficar por mais tempo indignado, perde a nobreza, torna-se demagógica, previsível.

***

Não sei quanto tempo irá levar nessa situação. Concretamente, o que está ocorrendo é uma radicalização cada vez maior entre esse público da grande mídia e um amplo espectro que poderia ser denominado de anti-grande mídia – que, temo eu, seja mais amplo do que o arco lulo-petista, porque engloba pessoas que entenderam que não pode existir poder absoluto em um governo, mas também não pode existir na mídia.

Em uma sociedade de massa, a arrogância é veneno na veia. Sérgio Motta, grande político e brasileiro, tornou-se alvo quando seu estilo foi confundido com arrogância; Fernando Collor foi derrotado muito mais pela arrogância do que pelos abusos; FHC criou uma enorme resistência, muito mais por sua arrogância intelectual do que pelos seus atos; José Dirceu foi defenestrado quando permitiu que se disseminasse a imagem do super-poderoso.

Pois é essa mesma mídia, que nas últimas décadas, providenciou essa caça-ao-arrogante, que se deixou cair na armadilha da arrogância. Cada forçada de barra, cada manchete escandalosa, cada crítica mal-posta cria anti-corpos na hora – é só ler os comentários aqui no Blog.

Por outro lado, cada manifestação desse público midiático provoca uma contra-manifestação em igual ou maior força do público anti-midiático. E ai se complica. Os dois lados estão fervendo, radicalizados. Está-se criando um fosso no país, mesmo tendo na presidência da República um político fundamentalmente contemporizador.

***

O que ocorrerá, se esse clima persistir até as próximas eleições? Primeiro, inviabilizará qualquer candidatura de consenso. Candidatos que poderiam montar um grande arco de alianças de centro-esquerda serão expulsos do jogo. Havendo a radicalização, o candidato lulo-petista será aquele que desfraldar a bandeira anti-mídia: Ciro Gomes ou Roberto Requião. E o resultado será o confronto, que poderá ocorrer antes, durante ou após as eleições.

São tão óbvios esses desdobramentos que às vezes fico pensando em que país vive Roberto Civita.

CANSEI