quinta-feira, dezembro 21, 2006

Ex-reporter da Globo conta tudo

Circula na internet a carta que segue abaixo do repórter Rodrigo Vianna, da Rede Globo, em São Paulo. Vale destacar que ele não é o mesmo repórter (José Messias Xavier) acusado de se envolver com a máfia dos "caça-níqueis", no Rio de Janeiro. Rodrigo Vianna trabalha e mora em São Paulo.

Ele não apresentou esta carta antes porque tem um contrato em vigência com a Rede Globo até janeiro de 2007. Caso apresentasse a carta antes teria que pagar uma multa de mais de R$ 800 mil.

Leia, abaixo, a íntegra da carta do jornalista:

Lealdade

Quando cheguei à TV Globo, em 1995, eu tinha mais cabelo, mais esperança, e também mais ilusões. Perdi boa parte do primeiro e das últimas. A esperança diminuiu, mas sobrevive. Esperança de fazer jornalismo que sirva pra transformar - ainda que de forma modesta e pontual. Infelizmente, está difícil continuar cumprindo esse compromisso aqui na Globo. Por isso, estou indo embora.

Quando entrei na TV Globo, os amigos, os antigos colegas de Faculdade, diziam: "você não vai agüentar nem um ano naquela TV que manipula eleições, fatos, cérebros". Agüentei doze anos. E vou dizer: costumava contar a meus amigos que na Globo fazíamos - sim - bom jornalismo. Havia, ao menos, um esforço nessa direção.

Na última década, em debates nas universidades, ou nas mesas de bar, a cada vez que me perguntavam sobre manipulação e controle político na Globo, eu costumava dizer: "olha, isso é coisa do passado; esse tempo ficou pra trás".

Isso não era só um discurso. Acompanhei de perto a chegada de Evandro Carlos de Andrade ao comando da TV, e a tentativa dele de profissionalizar nosso trabalho. Jornalismo comunitário, cobertura política - da qual participei de 98 a 2006. Matérias didáticas sobre o voto, sobre a democracia. Cobertura factual das eleições, debates. Pode parecer bobagem, mas tive orgulho de participar desse momento de virada no Jornalismo da Globo.

Parecia uma virada. Infelizmente, a cobertura das eleições de 2006 mostrou que eu havia me iludido. O que vivemos aqui entre setembro e outubro de 2006 não foi ficção. Aconteceu.

Pode ser que algum chefe queira fazer abaixo-assinado para provar que não aconteceu. Mas, é ruim, hem!

Intervenção minuciosa em nossos textos, trocas de palavras a mando de chefes, entrevistas de candidatos (gravadas na rua) escolhidas a dedo, à distância, por um personagem quase mítico que paira sobre a Redação: "o fulano (e vocês sabem de quem estou falando) quer esse trecho; o fulano quer que mude essa palavra no texto".

Tudo isso aconteceu. E nem foi o pior.

Na reta final do primeiro turno, os "aloprados do PT" aprontaram; e aloprados na chefia do jornalismo global botaram por terra anos de esforço para construir um novo tipo de trabalho aqui.

Ao lado de um grupo de colegas, entrei na sala de nosso chefe em São Paulo, no dia 18 de setembro, para reclamar da cobertura e pedir equilíbrio nas matérias: "por que não vamos repercutir a matéria da "Istoé", mostrando que a gênese dos sanguessugas ocorreu sob os tucanos? Por que não vamos a Piracicaba, contar quem é Abel Pereira?"

Por que isso, por que aquilo... Nenhuma resposta convincente. E uma cobertura desastrosa. Será que acharam que ninguém ia perceber?

Quando, no JN, chamavam Gedimar e Valdebran de "petistas" e, ao mesmo tempo, falavam de Abel Pereira como empresário ligado a um ex-ministro do "governo anterior", acharam que ninguém ia achar estranho?

Faltando seis dias para o primeiro turno, o "petista" Humberto Costa foi indiciado pela PF. No caso dos vampiros. O fato foi parar em manchete no JN, e isso era normal. O anormal é que, no mesmo dia, esconderam o nome de Platão, ex-assessor do ministério na época de Serra/Barjas Negri. Os chefes sabiam da existência de Platão, pediram a produtores pra checar tudo sobre ele, mas preferiram não dar. Que jornalismo é esse, que poupa e defende Platão, mas detesta Freud! Deve haver uma explicação psicanalítica para jornalismo tão seletivo!

Ah, sim, Freud. Elio Gaspari chegou a pedir desculpas em nome dos jornalistas ao tal Freud Godoy. O cara pode ter muitos pecados. Mas, o que fizemos na véspera da eleição foi incrível: matéria mostrando as "suspeitas", e apontando o dedo para a sala onde ele trabalhava, bem próximo à sala do presidente... A mensagem era clara. Mas, quando a PF concluiu que não havia nada contra ele, o principal telejornal da Globo silenciou antes da eleição.

Não vi matérias mostrando as conexões de Platão com Serra, com os tucanos.

Também não vi (antes do primeiro turno) reportagens mostrando quem era Abel Pereira, quem era Barjas Negri, e quais eram as conexões deles com PSDB. Mas vi várias matérias ressaltando os personagens petistas do escândalo. E, vejam: ninguém na Redação queria poupar os petistas (eu cobri durante meses o caso Santo André; eram matérias desfavoráveis a Lula e ao PT, nunca achei que não devêssemos fazer; seria o fim da picada...).

O que pedíamos era isonomia. Durante duas semanas, às vésperas do primeiro turno, a Globo de São Paulo designou dois repórteres para acompanhar o caso dossiê: um em São Paulo, outro em Cuiabá. Mas, nada de Piracicaba, nada de Barjas.!

Um colega nosso chegou a produzir, de forma precária, por telefone (vejam, bem, por telefone! Uma TV como a Globo fazer reportagem por telefone), reportagem com perfil do Abel. Foi editada, gerada para o Rio. Nunca foi ao ar!

Os telespectadores da Globo nunca viram Serra e os tucanos entregando ambulâncias cercados pelos deputados sanguessugas. Era o que estava na tal fita do "dossiê". Outras TVs mostraram o vídeo, a internet mostrou. A Globo, não. Provava alguma coisa contra Serra? Não. Ele não era obrigado a saber das falcatruas de deputados do baixo clero. Mas, por que demos o gabinete de Freud pertinho de Lula, e não demos Serra com sanguessugas?

E o caso gravíssimo das perguntas para o Serra? Ouvi, de pelo menos 3 pessoas diretamente envolvidas com o SP-TV Segunda Edição, que as perguntas para o Serra, na entrevista ao vivo no jornal, às vésperas do primeiro turno, foram rigorosamente selecionadas. Aquele diretor (aquele, vocês sabem quem) teria mandado cortar todas as perguntas "desagradáveis". A equipe do jornal ficou atônita. Entrevistas com os outros candidatos tinham sido duras, feitas com liberdade. Com o Serra, teria havido, deliberadamente, a intenção de amaciar.

E isso era um segredo de polichinelo. Muita gente ouviu essa história pelos corredores...

E as fotos da grana dos aloprados? Tínhamos que publicar? Claro. Mas, porque não demos a história completa? Os colegas que estavam na PF naquele dia (15 de setembro), tinham a gravação, mostrando as circunstâncias em que o delegado vazara as fotos. Justiça seja feita: sei que eles (repórter e produtor) queriam dar a matéria completa - as fotos, e as circunstâncias do vazamento. Podiam até proteger a fonte, mas escancarando o que são os bastidores de uma campanha no Brasil. Isso seria fazer jornalismo, expor as entranhas do poder.

Mais uma vez, fomos seletivos: as fotos mostradas com estardalhaço. A fita do delegado, essa sumiu!

Aquele diretor, aquele que controla cada palavra dos textos de política, disse que só tomou conhecimento do conteúdo da fita no dia seguinte. Quer que a gente acredite?

Por que nunca mostraram o conteúdo da fita do delegado no JN?

O JN levou um furo, foi isso?

Um colega nosso, aqui da Globo ouviu a fita e botou no site pessoal dele... Mas, a Globo não pôs no ar... O portal "G-1" botou na íntegra a fita do delegado, dias depois de a "CartaCapital" ter dado o caso. Era noticia? Para o portal das Organizações Globo, era.

Por que o JN não deu no dia 29 de setembro? Levou um furo?

Não. Furada foi a cobertura da eleição. Infelizmente.

E, pra terminar, aquele episódio lamentável do abaixo-assinado, depois das matérias da "CartaCapital". Respeito os colegas que assinaram. Alguns assinaram por medo, outros por convicção. Mas, o fato é que foi um abaixo-assinado em defesa da Globo, apresentado por chefes!

Pensem bem. Imaginem a seguinte hipótese: a revista "Quatro Rodas" dá matéria falando mal da suspensão de um carro da Volkswagen, acusando a empresa de deliberadamente não tomar conhecimento dos problemas. Aí, como resposta, os diretores da Volks têm a brilhante idéia de pedir aos metalúrgicos pra assinar um manifesto em defesa da empresa! O que vocês acham? Os metalúrgicos mandariam a direção da fábrica catar coquinho em Berlim!

Aqui, na Globo, muitos preferiram assinar. Por isso, talvez, tenhamos um metalúrgico na Presidência da República, enquanto os jornalistas ficaram falando sozinhos nessa eleição...

De resto, está difícil continuar fazendo jornalismo numa emissora que obriga repórteres a chamarem negros de "pretos e pardos". Vocês já viram isso no ar? Sinto vergonha...

A justificativa: IBGE (e, portanto, o Estado brasileiro) usa essa nomenclatura. Problema do IBGE. Eu me recuso a entrar nessa. Delegados de policia (representantes do Estado) costumavam (até bem pouco tempo) tratar companheiras (mesmo em relações estáveis) como "concubinas" ou "amásias". Nunca usamos esses termos!

Árabes que chegaram ao Brasil no início do século passado eram chamados de "turcos" pelas autoridades (o passaporte era do Império Turco Otomano, por isso a nomenclatura). Por causa disso, jornalistas deviam chamar libaneses de turcos?

Daqui a pouco, a Globo vai pedir para que chamemos a Parada Gay de "Parada dos Pederastas". Francamente, não tenho mais estômago.

Mas, também, o que esperar de uma Redação que é dirigida por alguém que defende a cobertura feita pela Globo na época das Diretas?

Respeito a imensa maioria dos colegas que ficam aqui. Tenho certeza que vão continuar se esforçando pra fazer bom Jornalismo. Não será fácil a tarefa de vocês.

Olhem no ar. Ouçam os comentaristas. As poucas vozes dissonantes sumiram. Franklin Martins foi afastado. Do Bom dia Brasil ao JG, temos um desfile de gente que está do mesmo lado.

Mas sabem o que me deixou preocupado mesmo? O texto do João Roberto Marinho depois das eleições.

Ele comemorou a reação (dando a entender que foi absolutamente espontânea; será que disseram isso pra ele? Será que não contaram a ele do mal-estar na Redação de São Paulo?) de jornalistas em defesa da cobertura da Globo:

"(...)diante de calúnias e infâmias, reagem, não com dúvidas ou incertezas, mas com repúdio e indignação. Chamo isso de lealdade e confiança".

Entendi. Ele comemora que não haja dúvidas e incertezas... Faz sentido. Incerteza atrapalha fechamento de jornal. Incerteza e dúvida são palavras terríveis. Devem ser banidas. Como qualquer um que diga que há racismo - sim - no Brasil.

E vejam o vocabulário: "lealdade e confiança". Organizações ainda hoje bem populares na Itália costumam usar esse jargão da "lealdade".

Caro João, você talvez nem saiba direito quem eu sou.

Mas, gostaria de dizer a você que lealdade devemos ter com princípios, e com a sociedade. A Globo, infelizmente, não foi "leal" com o público. Nem com os jornalistas. Vai pagar o preço por isso. É saudável que pague. Em nome da democracia!

João, da família Marinho, disse mais no brilhante comunicado interno:

"Pude ter certeza absoluta de que os colaboradores da Rede Globo sabem que podem e devem discordar das decisões editoriais no trabalho cotidiano que levam à feitura de nossos telejornais, porque o bom jornalismo é sempre resultado de muitas cabeças pensando".

Caro João, em que planeta você vive? Várias cabeças? Nunca, nem na ditadura (dizem-me os companheiros mais antigos) tivemos na Globo um jornalismo tão centralizado, a tal ponto que os repórteres trabalham mais como bonecos de ventríloquos, especialmente na cobertura política!

Cumpro agora um dever de lealdade: informo-lhe que, passadas as eleições, quem discordou da linha editorial da casa foi posto na "geladeira". Foi lamentável, caro João. Você devia saber como anda o ânimo da Redação - especialmente em São Paulo.

Boa parte dos seus "colaboradores" (você, João, aprendeu direitinho o vocabulário ideológico dos consultores e tecnocratas - "colaboradores", essa é boa... Eu não sou colaborador, coisa nenhuma! Sou jornalista!) está triste e ressabiada com o que se passou.

Mas, isso tudo tem pouca importância.

Grave mesmo é a tela da Globo - no Jornalismo, especialmente - não refletir a diversidade social e política brasileira. Nos anos 90, houve um ensaio, um movimento em direção à pluralidade. Já abortado. Será que a opção é consciente?

Isso me lembra a Igreja Católica, que sob Ratzinger preferiu expurgar o braço progressista. Fez uma opção deliberada: preferiram ficar menores, porém mais coesos ideologicamente. Foi essa a opção de Ratzinger. Será essa a opção dos Marinho?

Depois, não sabem porque os protestantes crescem...

Eu, que não sou católico nem protestante, fico apenas preocupado por ver uma concessão pública ser usada dessa maneira!

Mas, essa é também uma carta de despedida, sentimental.

Por isso, peço licença pra falar de lembranças pessoais.

Foram quase doze anos de Globo.

Quando entrei na TV, em 95, lá na antiga sede da praça Marechal, havia a Toninha - nossa mendiga de estimação, debaixo do viaduto. Os berros que ela dava em frente à entrada da TV traziam uma dimensão humana ao ambiente, lembravam-nos da fragilidade de todos nós, de como nossa razão pode ser frágil.

Havia o João Paulada - o faz-tudo da Redação.

Havia a moça do cafezinho (feito no coador, e entregue em garrafas térmicas), a tia dos doces...

Era um ambiente mais caseiro, menos pomposo. Hoje, na hora de dizer tchau, sinto saudade de tudo aquilo.

Havia bares sujos, pessoas simples circulando em volta de todos nós - nas ruas, no Metrô, na padaria.

Todos, do apresentador ao contínuo, tinham que entrar a pé na Redação. Estacionamentos eram externos (não havia "vallet park", nem catraca eletrônica). A caminhada pelas calçadas do centro da cidade obrigava-nos a um salutar contato com a desigualdade brasileira.

Hoje, quando olho pra nossa Redação aqui na Berrini, tenho a impressão que estou numa agência de publicidade. Ambiente asséptico, higienizado. Confortável, é verdade. Mas triste, quase desumano.

Mas, há as pessoas. Essas valem a pena.

Pra quem conseguiu chegar até o fim dessa longa carta, preciso dizer duas coisas...

1) Sinto-me aliviado por ficar longe de determinados personagens, pretensiosos e arrogantes, que exigem "lealdade"; parecem "poderosos chefões" falando com seus seguidores... Se depender de mim, como aconteceu na eleição, vão ficar falando sozinhos.

2) Mas, de meus colegas, da imensa maioria, vou sentir saudades.

Saudades das equipes na rua - UPJs que foram professores; cinegrafistas que foram companheiros; esses sim (todos) leais ao Jornalismo.

Saudades dos editores - que tiveram paciência com esse repórter aflito e procuraram ser leais às minúcias factuais.

Saudades dos produtores e dos chefes de reportagem - acho que fui leal com as pautas de vocês e (bem menos) com os horários!

Saudades de cada companheiro do apoio e da técnica - sempre leais.

Saudades especialmente, das grandes matérias no Globo Repórter - com aquela equipe de mestres (no Rio e em São Paulo) que aos poucos vai se desmontando, sem lealdade nem respeito com quem fez história (mas há bravos resistentes ainda).

Bem, pelo tom um tanto ácido dessa carta pode não parecer. Mas levo muita coisa boa daqui.

Perdi cabelos e ilusões. Mas, não a esperança.

Um beijo a todos.

Rodrigo Vianna.




quarta-feira, novembro 15, 2006

Mainardi e Veja condenados em processo movido por Mino Carta

A Justiça de São Paulo, Vara Cível de Pinheiros, condenou Diogo Mainardi e a Editora Abril por violação da honra e injúria contra o jornalista Mino Carta.

Numa coluna na revista Veja, Mainardi disse que Mino se submetia ao empresário Carlos Jereissati para fazer reportagens contra Daniel Dantas, na revista Carta Capital. Mainardi também disse que Mino se equipararia aos “mensaleiros”.

Por isso, Mainardi e a Abril foram condenados e vão ter que pagar uma indenização a Mino Carta.

A seguir alguns trechos da sentença:

DEMÉTRIO CARTA e EDITORA CONFIANÇA LTDA. ajuizaram ação de indenização por danos morais pelo rito ordinário em face de EDITORA ABRIL e DIOGO MAINARDI, aduzindo, em síntese, que nas edições nº 1934 e nº 1955, da revista Veja, publicadas em 07.12.2005 e 10.05.2006, respectivamente, foram divulgadas matérias ofensivas aos autores sob os títulos de “Observatório da Imprensa” e “O Mensalão da Imprensa”. A primeira matéria, denominada “Observatório de Imprensa”, feriu a honra, a imagem e a integridade moral do autor Mino Carta, ao afirmar que ele estaria “subordinado a Carlos Jereissati”, tendo por “missão atacar Daniel Dantas e de defender a ala lulista representada por Luiz Gushiken”. Desse modo, os réus induzem os leitores à conclusão de que as reportagens dos autores estariam contaminadas pela parcialidade e pelo comprometimento com o governo atual, sendo que o comprometimento dos autores é exclusivo com os leitores. O autor Mino Carta tem longa trajetória como jornalista e uma moral a zelar, tendo sua imagem e seu nome enxovalhados numa matéria jornalística irresponsável. As matérias não apresentam qualquer dado concreto que respalde os comentários ofensivos, ultrapassando os limites do direito de crítica ou opinião. A matéria “O mensalão da imprensa” ofendeu a honra do jornalista Mino Carta e questionou a idoneidade da Revista CartaCapital. Isso porque colocou em dúvida a integridade jornalística do primeiro autor e acusou a editora da Revista CartaCapital, a Editora Confiança, de proteger o governo Lula em troca de verbas publicitárias. Afirmam que o conteúdo das matérias caracteriza crimes contra a pessoa e contra a honra, não devendo ser admitido conteúdos ofensivos, sem qualquer embasamento fático.

(...)

Assim, o dano moral reconhecido refere-se exclusivamente ao autor e decorre de ter sido apontado como subordinado a Carlos Jereissati e comparado aos deputados envolvidos no mensalão. As duas afirmações foram suficientes para caracterizar a violação da honra, pois divulgaram o autor como alguém de convicções frágeis e pouco comprometido com valores, influenciado por interesses de terceiro e por dinheiro. Tal importa em especial relevância, considerando a profissão e a atividade do autor, caracterizando um dano de razoável extensão. Em outras palavras, em que pese as ofensas terem sido proferidas em parte diminuta dos artigos, o dano não guarda a mesma proporção, considerando a atividade do autor e a gravidade das ofensas. De fato, as expressões utilizadas e divulgadas pelos réus têm o condão de abalar a honra e a imagem da pessoa. Se é verdade que a esfera de proteção da intimidade do homem público é menor, em razão do interesse comum por sua atividade, não menos verdadeiro o maior potencial ofensivo de violação desta esfera, na medida em que conta com a credibilidade dos leitores. No mais, a indenização pelo dano moral também tem caráter punitivo e pedagógico, de desestimular a reiteração da conduta ilícita, concluindo-se definitivamente pela reparação. Assim, levando em consideração os parâmetros da doutrina e da jurisprudência, fixo o dano moral em benefício do autor Demétrio Carta em 100 salários mínimos, correspondentes a R$ 35.000,00. Em relação à publicação da sentença, a pretensão não deve ser acolhida, uma vez que a reparação do dano moral deu-se com a indenização pecuniária e dispensa outras providências. Ante o exposto, JULGO PROCEDENTE o pedido em relação a Demétrio Carta e condeno os réus no pagamento de indenização por danos morais no valor de R$ 35.000,00, atualizados monetariamente desde a propositura da ação, até o efetivo pagamento, com juros de mora de 1% ao mês desde a citação

quarta-feira, novembro 08, 2006

Manifesto contra a manipulação

A democracia brasileira foi vítima, na semana que antecedeu o primeiro turno das eleições presidenciais, de um assalto. Em conluio com um delegado federal criminoso, os veículos de mídia O Globo , Folha de S.Paulo, O Estado de S. Paulo, da TV Globo e da Rádio Jovem Pan fraudaram a ética e o compromisso com a verdade – cláusulas pétreas para o exercício do jornalismo – em nome de interesses político-partidários. Para obterem as fotos do dinheiro apreendido com militantes petistas pela Polícia Federal e exibi-las ao público, esse bando midiático mentiu e manipulou sem nenhum escrúpulo.

Diferentemente do que ocorre, freqüentemente, no ringue de vale-tudo da mídia e do Poder, essa farsa veio à tona.

A conversa entre o delegado Edmilson Bruno e os repórteres Paulo Baraldi, Lilian Christofoletti, Tatiana Farah e André Guilherme, em que também são citados os jornalistas César Tralli e Rodrigo Bocardi, foi publicada pelo jornalista Paulo Henrique Amorim em seu blog. A sociedade pôde, então, conhecer o arranha-céu de mentiras publicadas e exibidas pelos maiores veículos de comunicação brasileiros. Num país em que a mídia se encontra acima do bem e do mal, esse é um momento peculiar. O momento de a sociedade reagir.

A direção do bando midiático sabia que a versão de Bruno para o "roubo" da foto do dinheiro era falsa, mas mesmo assim levou-a ao público. Por quê? Com que motivos? Em nome do interesse público? Com certeza, não.

Esse bando fez isso para adulterar o resultado eleitoral, influindo de forma premeditada na percepção do cidadão brasileiro.

O momento é grave. Um dos mais sombrios da nossa história contemporânea. Devemos repudiar o ocorrido. Não nos submeter à escuridão. Possuímos pequeno arsenal para enfrentar o imenso poder dos conglomerados monopolistas, mas devemos exigir a devida punição dos protagonistas dessa tragédia. É chegada a hora de discutir-se abertamente a importância do controle social dos meios de comunicação.

Empresas de comunicação e jornalistas prestam um serviço público. A comunicação não é uma moeda, não é um negócio. É um direito do cidadão. Compreendido isso, torna-se claro que a manipulação é um crime.

Não se pode aceitar que crimes sejam cometidos por aqueles que passaram a empunhar a bandeira da liberdade de imprensa apenas para se perpetuar no comando da sociedade. Liberdade de Imprensa não autoriza empresas a fazerem o que bem entendem com o país em que vivemos; não é liberdade de empresa. Os movimentos sociais e as organizações não podem deixar que isso ocorra. É preciso haver instrumentos que garantam que a verdade prevaleça, preservando a liberdade de informar e ser informado, mas impedindo que essa liberdade seja utilizada para manter fatos relevantes na sombra.

Nós, do Coletivo Intervozes, convidamos a sociedade organizada a se somar a esse movimento de denúncia. A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) precisam assumir uma clara postura de condenação do ocorrido. As autoridades competentes, os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, precisam reagir com responsabilidade.

Porque está em jogo o próprio futuro da democracia brasileira.

Fonte: Intervozes

terça-feira, novembro 07, 2006

Para ouvir e pensar...

Hey Joe
Composição: Jimi Hendrix (versão: O Rappa)

Hey joe
Onde é que você vai
Com essa arma aí na mão

Hey joe
Esse não é o atalho
Pra sair dessa condição

Dorme com tiro acorda ligado
Tiro que tiro trik-trak boom
Para todo lado

Meu irmão, é só desse jeito
Consegui impor minha moral
Eu sei que sou caçado
E visto sempre como um animal

Sirene ligada os homi
Chegando trik-trak
Boom boom
Mas eu vou me mandando

Hey joe
Assim você não curte o brilho
Intenso da manhã
Acorda com tiro dorme com tiro

Hey joe
O que o teu filho vai pensar
Quando a fumaça baixar

Fumaça de fumo
Fogo de revólver
E é assim que eu faço eu faço
A minha história

Meu irmão, aqui estou por causa dele
E eu vou te dizer
Talvez eu não tenha vida
Mas é assim que vai ser

Armamento pesado
Corpo fechado
Eu quero é mais ver
Mais vai ser difícil me deter

Hey joe,
Muitos castelos já caíram e você tá na mira
Tá na mira, tá na mira, tá na mira

Hey, hey, hey, hey joe
Muitos castelos já caíram e você tá na mira

Também morre quem atira.(8x)

Menos de 5% dos caras do local
São dedicados a alguma atividade marginal
E impressionam quando aparecem nos jornais
Tapando a cara com trapos
Com uma uzi na mão
Parecendo árabes,árabes,árabes do caos.
Sinto muito cumpadi
Mas é burrice pensar
Que esses caras
É que são os donos da biografia
Já que a grande maioria
Daria um livro por dia
Sobre arte, honestidade e sacrifício, sacrifício
Arte, honestidade e sacrifício

Também morre quem atira.(8x)
Deu pro cara se ligar na missão joe.

sábado, outubro 28, 2006

Escolha bem o que você lê!

Vejam abaixo a análise do Observatório Brasileiro de Mídia sobre a cobertura das eleições e decidam o que é melhor pra você, ser manipulado por reportagens com enfoque pré-definidos ou ser informado com imparcialidade sobre os fatos da semana?

Veja

A Veja dedicou 8 abordagens à cobertura dos dois candidatos e do presidente. Lula teve o maior número: 5 (62,5%); seguido de Alckmin, 2 (25%). O presidente Lula teve uma (12,5%) abordagem.

Do total de abordagens para cada candidato, Lula teve 100% de abordagem negativa. Alckmin teve 100% de abordagem positiva. O presidente Lula teve 100% de abordagem negativa.

Época

A Época dedicou 4 abordagens à cobertura dos dois candidatos e ao presidente. Lula e Alckmin tiveram uma (25%) abordagem cada um. O presidente Lula teve duas (50%) abordagens.

Do total de abordagens para cada candidato, Lula teve 100% de abordagem negativa. Alckmin teve 100% de abordagem positiva. O presidente Lula teve 50% de abordagem positiva e 50% de abordagem negativa.

IstoÉ

A IstoÉ dedicou 7 abordagens à cobertura dos dois candidatos e ao presidente. Alckmin teve 3 (42,8%) e Lula teve duas (28,6%) abordagens. O presidente Lula teve duas (28,6%) abordagens.

Do total de abordagens para cada candidato, Lula teve 50% de positiva e 50% de negativa.
Sobre o total de abordagens a sua candidatura, Alckmin teve 33,3% de positiva e 66,7% de negativa. O presidente Lula teve 50% de abordagem neutra e 50% de abordagem negativa.

Carta Capital


A Carta Capital dedicou 5 abordagens à cobertura dos dois candidatos e ao presidente. Alckmin e Lula tiveram duas (40%) cada um. O presidente Lula teve uma (20%) abordagens.

Do total de abordagens para cada candidato, Lula teve 100% de abordagem neutra. Sobre o total de abordagens a sua candidatura, Alckmin teve 50% de positiva e 50% de neutra. O presidente Lula teve 100% de abordagem neutra.

segunda-feira, outubro 23, 2006

Lucro de grandes empresas quadruplica

O lucro das grandes empresas mais que quadruplicou nos três anos e meio de governo Lula em relação a igual período do segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, superando em muito a rentabilidade dos bancos. A soma do lucro líquido das 227 principais empresas do setor produtivo com ações negociadas em Bolsa cresceu de R$ 29,3 bilhões para R$ 131,7 bilhões entre os dois governos, diz reportagem do jornal O Estado de S. Paulo. A diferença, de R$ 102,4 bilhões, representa um salto de 349,8%.
Na mesma comparação, o lucro dos 23 bancos de capital aberto teve crescimento bem mais modesto, de 104,2%: passou de R$ 26,7 bilhões para R$ 54,5 bilhões. Nesse grupo, estão as maiores instituições financeiras do País, como Bradesco, Itaú e Banco do Brasil.
A conclusão é de um levantamento feito pela Economática, empresa de informação financeira, a pedido do jornal. Todos os valores foram atualizados até 30 de junho de 2006, com base no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o indicador oficial da inflação no País, apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A Petrobrás, maior empresa brasileira, e a Eletrobrás não foram incluídas na amostra. Sozinha, a estatal petrolífera lucrou, na administração petista, mais que todos os 23 bancos juntos: R$ 77,4 bilhões, com expansão de 114,7% se comparado com o resultado obtido no último governo tucano.
Da administração tucana para a petista, o faturamento das 227 empresas analisadas pela Economática passou de R$ 880,7 bilhões para R$ 1,2 trilhão, o que representa alta de 35,3% (R$ 311 bilhões a mais).
Impacto do câmbio
O comportamento do câmbio teve influência significativa nos resultados, apesar das queixas de perda de competitividade das empresa que atuam nos chamados setores concorrenciais, como calçados e têxteis.

Em três anos e meio do segundo mandato de Fernando Henrique, o real teve uma desvalorização de 135% em relação ao dólar, o que acabou destruindo o lucro das grandes companhias em razão do elevado nível de endividamento em moeda estrangeira que elas têm.
No governo Lula, ocorre exatamente o contrário. O dólar se desvalorizou 38,7%, permitindo às empresas obter ganhos financeiros por conta da redução de suas dívidas atreladas à moeda estrangeira.
Os dois movimentos explicam a queda de 46,7% ocorrida na despesa financeira líquida (receita menos gasto) entre os dois mandatos presidenciais. A despesa líquida recuou de R$ 72 bilhões para R$ 53,6 bilhões, o que representa ganho financeiro de R$ 45 bilhões para as empresas no período petista.

FONTE: Terra

segunda-feira, outubro 16, 2006

Carta Capital denuncia jogo sujo da mídia

A revista Carta Capital dessa semana traz uma reportagem imperdível, que conta os bastidores da divulgação das fotos com o dinheiro apreendico pela PF em São Paulo e que seria usado para compra do famoso dossiê... Estariam envolvidas em maipulação das infomações veículos de peso na mídia, como Globo, Estadão e Folha.

(clique aqui para ler a transcrição da maior parte da reportagem de Raimundo Rodrigues Pereira, com a colaboração de Antônio Carlos Queiroz, publicada na edição de número 415, da revista Carta Capital, data de capa de 18 de outubro de 2006)

Veja aposta em estupidez do leitor

A quinze dias da eleição, a revista Veja mostra outra face de seu “jornalismo moderno” com reportagem de capa de difícil digestão. A intenção da revista é mostrar que Freud Godoy, o assessor de Segurança da Presidência que acompanha Lula desde os anos 80, tem culpa no cartório - apesar do noticiário mostrar exatamente o contrário. Freud Godoy esteve sob suspeição unânime da imprensa até dia 8 passado, quando o o jornalista Elio Gaspari escreveu:

FREUD GODOY precisa ser explicitamente exonerado das suspeitas que o levaram a um patíbulo moral. De acordo com o atual estágio das investigações das traficâncias petistas, ele nada teve a ver com o episódio do dossiê Vedoin. Enquanto houver alguém assegurando o contrário, a injustiça e o linchamento prevalecerão sobre a lei e o direito.

Gaspari foi diretor-adjunto da revista e formou a direção e mais da metade de seus editores. Por medo ou respeito, a reportagem não se refere a ele, mas apenas que “Freud tem desfilado por colunas jornalísticas e eventos sociais como um injustiçado.”

O enrolado da semana cobre Godoy de suspeitas e juízos prévios, envolvendo o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e a Polícia Federal, instituição que hoje é respeitada pelos serviços apresentados. A trama delituosa descrita pela revista reside na denúncia de suposta quebra de procedimento burocrático da custódia da PF, que teria sido inspirada pela ação do ministro da Justiça para impedir o aprofundamento das investigações sobre Godoy, dentro de “um padrão mais ou menos constante na crônica policial do governo petista”.

Com uma ilação aqui e outro pré-juízo prévio ali, a capa sustenta-se em telefonemas que a reportagem diz ter presenciado entre terceiros, além de um relatório “encaminhado a Veja por três delegados”.

Nomes dos delegados? Não. Provas da seqüência delituosa? Nenhuma. Coragem de assumir tudo que está escrito? Também não.
Entre uma suspeita e outra contra Godoy, entre fatos e fotos já divulgados, o texto desmente o que dissera pouco antes, ressaltando que não há prova para confirmar as ilações e juízos. Incapaz de apresentar indícios mais consistentes, sugere a quebra do sigilo bancário de Godoy que, desgostosamente, depende da Justiça.

O único fato concreto relatado na reportagem é o testemunho de dois telefonemas, que a reportagem diz ter presenciado, e uma folha impressa, sem timbre, com “um relato escrito por três delegados da Polícia Federal e encaminhado a VEJA”.

Os inominados relatam uma quebra de procedimento que possibilitou a realização de um encontro entre Godoy e Gedimar Passos, preso pela Policia Federal, junto com Valdebran Padilha, com o R$ 1,7 milhão que seria pago pelo dossiê furado. Segundo o “relato”, Gedimar reuniu-se a portas fechadas com aquele que ele mesmo incriminara horas antes com o “Freud ou Froud”. O encontro, diz a revista, ocorreu fora da área de carceragem e sem protocolo assinado - o que é irregular. O diretor da Polícia Federal em São Paulo, Severino Alexandre, nega a possibillidade disso ter acontecido, mas pouco adianta. Para a revista, os autores não identificados do “relato” têm maior credibilidade. Para eles, Severino Alexandre é suspeito, pois “facilitou” o encontro e pressionou Jorge Herculano, chefe da custódia, a atropelar a burocracia para salvar a pele de Freud Godoy.

Herculano seria a testemunha-chave do enredo criminoso. Ele é o que estaria do outro lado da linha dos telefonemas de dois delegados (também não identificados) que a reportagem diz ter presenciado. Mas Herculano também nega a história. De novo, pouco adiantou. A revista diz que ele “não confirmou a história que narrara aos colegas pelo telefone. Mas deu um jeito de dizer que também não a desmentia”.

Que jeito foi esse? Uma piscadinha? Um movimento de sobrancelha? A revista não explica.

A aposta na estupidez do leitor aparece logo nas primeiras linhas da reportagem. “Nessa operação aparece o que pode ser a impressão digital de um personagem muito próximo do presidente Lula.” Pode ser como também não pode, mas isso não é problema. Não se discute a credibilidade nem a ética jornalística. Para se livrar de qualquer responsabilidade, a revista aventa a possibilidade de os denunciantes não identificados serem do PSDB.

Tudo bem, publica-se assim mesmo e, por cima, com destaque de capa. O que vale é dar munição para o horário político de Alckmin na tevê na reta de chegada da campanha. É esperar para ver.

A Folha de hoje traz a primeira reação oficial, do diretor da PF de São Paulo. Ele diz que a reportagem “é leviana e tendenciosa”.


FONTE: Contrapauta

quarta-feira, outubro 11, 2006

Entrevista de Alckmin a TV Inglesa. Absurdo...

Alckmin no debate (08/10): "A diferença é de carater, eu não me omito, eu não jogo nas costas do governo as minhas responsabilidades"

Vejam o vídeo a seguir e tirem suas próprias conclusões:

segunda-feira, outubro 09, 2006

Pesquisas qualitativas indicam que Alckmin perdeu o debate

Por Bernardo Joffily

Há bons motivos para duvidar da avaliação dos comentaristas da mídia grande, que falam em "empate" ou até "vitória de Geraldo Alckmin" no debate dos candidatos presidenciais neste domingo (8), na TV Bandeirantes. Pesquisas qualitativas que acompanharam o debate indicaram que os eleitores de Alckmin ficaram "desapontados", ao ver que seu candidato "não fazia proposta", que "só atacava" e "voltava aos mesmos pontos".

As pesquisas qualitativas foram feitas em quatro capitais, com grupos mistos -- metade de eleitores de Lula e metade de Alckmin -- das classes "C" e "D", e um da "A" e "B" para efeito de monitoramento. Os grupos assistitam ao vivo o debate promovido pela Rede Bandeirantes, e depois comentaram o que viram.

Passou do Ponto

As pesquisas registraram inclusive mudança de votos, sempre no sentido de Alckmin para Lula. Apareceram comentários como o de que o candidato do PSDB-PFL "destoou" e "passou do ponto" com o seu novo comportamento. No grupo de classe "A" e "B" a tendência foi a mesma, embora atenuada e sem mudanças nas intenções de voto.

Os eleitores pesquisados avaliaram Lula como "na defensiva" porém "firme". E o presidente ganhou pontos pelo simples fato de ter ido ao debate, já que sua ausência nos do primeiro turno provocou uma "carência" agora sanada.

A conclusão da pesquisa qualitativa não dá razão ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que quatro semanas atrás pedia mais “ferocidade” do seu presidenciável e reclamava que “o PSDB não tem gosto de sangue na boca”. Pelo contrário, abona o juizo do vice-presidente Alencar, para quem Alckmin, com seu "desrespeito" durante o debate, “marcou gol contra".

Mais Debate: entre mortos e feridos, salvaram-se todos

por Franklin Martins

Ao final do debate, conversei com integrantes das equipes dos dois presidenciáveis e, de um lado e de outro, só encontrei vitoriosos. Entrevistei também os coordenadores das duas campanhas: o professor Marco Aurélio Garcia (Lula) e o senador Sérgio Guerra. Ambos estavam satisfeitíssimos com o desempenho de seus candidatos. E a satisfação não era para inglês ver. Parecia sincera.

Não há nada de estranho no fato de que os dois lados tenham ido dormir sentindo-se vitoriosos. Nos debates, a menos que um dos contendores dê uma escorregada monumental, a primeira reação entre seus colaboradores e eleitores é, geralmente, de satisfação. Basta que o candidato tenha cumprido bem o papel que se esperava dele. Se não decepcionou, já está de bom de tamanho. Se surpreendeu positivamente aqui e ali, passa a ser um campeão.

Alckmin, em vez de um picolé de chuchu, mostrou-se um Mike Tyson determinado a derrubar o adversário nos primeiros 45 segundos da luta? Tucanos e pefelistas ficam eufóricos ao ver que ele, finalmente, encaixou-se no modelito de candidato dos seus sonhos. Lula assimilou os golpes no round das denúncias, para, em seguida, partir para o contra-ataque em temas como economia, programas sociais, energia e política externa? É a vez dos petistas sentirem-se no sétimo céu, porque seu candidato mostrou perfil de estadista mais nítido que o adversário.

Tudo isso é compreensível, mas não tem grande peso na evolução posterior dos acontecimentos. Debates raramente provocam mudanças espetaculares no estado de ânimo dos eleitores, a não ser quando um dos candidatos sofre seguidas quedas durante a luta ou é posto a nocaute. O mais comum é que a decisão seja por pontos, nas mãos dos jurados. Nesses casos, os debates são apenas um ingrediente a mais nas campanhas – importantes mas não decisivos. Contribuem para firmar ou enfraquecer conceitos, ressaltar ou amenizar temas, alimentar e balizar as discussões na sociedade. Mas não decidem diretamente o voto da maioria.

No caso do debate de ontem, em que nenhum dos contendores beijou a lona, os dois lados podem sair cantando vitória. Faz parte do jogo proclamar-se vencedor numa luta de resultado incerto. O certo é que as duas campanhas, cada uma a seu modo, ganharam gás com a disputa de ontem. E vão prosseguir com as estratégias traçadas para o segundo turno. Alckmin baterá cada vez mais na tecla da ética, tentando desconstruir o adversário. Lula passará o tempo todo fazendo a comparação entre o que é o seu governo e o que seria um governo do PSDB e do PFL.

Nos dois lados, não há mais tempo para alterar o plano de vôo. A sorte está lançada.

sexta-feira, outubro 06, 2006

Para reflexão: Entrevista com Chico Buarque

A cada uma de suas entrevistas, o compositor e cantor Chico Buarque de Holanda sempre surpreende por sua lucidez e enorme coerência. Agora, no lançamento do seu novo CD, Carioca, ele novamente brilhou ao falar sobre a situação política brasileira. A direita deve ter ficado furiosa, com saudades dos tempos da ditadura militar que o perseguiu e censurou; a esquerda "rancorosa" deve ter ficado ressentida com seus irônicos comentários. Já os setores da sociedade que, mesmo críticos das limitações do governo Lula, não perderam a perspectiva, ganharam novo impulso criativo para a sua atuação.

O que será que a imprensa parcial pensará disso, pois Chico não se enquadra em nenhum dos perfis por "eles" rotulados, como pobres comprados pelo assistencialismo, ignorantes, desinformados, enfim, todos aqueles que não são "criticos" o suficiente, como deseja a Globo, a Veja e outros meios de comunicação deste país. Segundo eles, apenas é inteligente, tem senso crítico, quem balança a cabeça em concordância com seus editoriais e suas meias informações.

Seguem alguns trechos das entrevistas com Chico na revista Carta Capital e no jornal Folha de S.Paulo:

Crise Política: É claro que esse escândalo abalou o governo, abalou quem votou no Lula, abalou sobretudo o PT. Para o partido, esse escândalo é desastroso. O outro lado da moeda é que disso tudo pode surgir um partido mais correto, menos arrogante. No fundo, sempre existiu no PT a idéia de que você ou é petista ou é um calhorda. Um pouco como o PSDB acha que você ou é tucano ou é burro (risos). Agora, a crítica que se faz ao PT erra a mão. Não só ao PT, mas principalmente ao Lula. Quando a oposição vem dizer que se trata do governo mais corrupto da história do Brasil é preciso dizer 'espera aí'. Quando aquele senador tucano canastrão diz que vai bater no Lula, dar porrada, quando chamam o Lula de vagabundo, de ignorante - aí estão errando muito a mão. Governo mais corrupto da história? Onde está o corruptômetro? É preciso investigar as coisas, sim. Tem que punir, sim. Mas vamos entender melhor as coisas. A gente sabe que a corrupção no Brasil está em toda parte. E vem agora esse pessoal do PFL, justamente ele, fazer cara de ofendido, de indignado. Não vão me comover...

Preconceito de Classe: O preconceito de classe contra o Lula continua existindo - e em graus até mais elevados. A maneira como ele é insultado, eu nunca vi igual. Acaba inclusive sendo contraproducente para quem agride, porque o sujeito mais humilde ouve e pensa: 'Que história é essa de burro!? De ignorante!? De imbecil!?'. Não me lembro de ninguém falar coisas assim antes, nem com o Collor. Vagabundo! Ladrão! Assassino! - até assassino eu já ouvi.

Fizeram o diabo para impedir que o Lula fosse presidente. Inventaram plebiscito, mudaram a duração do mandato, criaram a reeleição. Finalmente, como se fosse uma concessão, deixaram Lula assumir. 'Agora sai já daí, vagabundo!'. É como se estivessem despachando um empregado a quem se permitiu o luxo de ocupar a Casa Grande. 'Agora volta pra senzala!'.

Eu não gostaria que fosse assim. Eu voto no Lula! A economia não vai mudar se o presidente for um tucano. A coisa está tão atada que honestamente não vejo muita diferença entre um próximo governo Lula e um governo da oposição. Mas o país deu um passo importante elegendo Lula. Considero deseducativo o discurso em voga: 'Tão cedo esses caras não voltam, eles não sabem fazer, não são preparados, não são poliglotas'. Acho tudo isso muito grave. Hoje eu voto no Lula. Vou votar no Alckmin? Não vou. Acredito que, apesar de a economia estar atada como está, ainda há uma margem para investir no social que o Lula tem mais condições de atender. Vai ficar devendo, claro. Já está devendo. Precisa ser cobrado. Ele dizia isso: 'Quero ser cobrado, vocês precisam me cobrar, não quero ficar lá cercado de puxa-sacos'. Ouvi isso dele na última vez que o vi, antes dele tomar posse, num encontro aqui no Rio.

Sobre o PSOL: Percebo nesses grupos um rancor que é próprio dos ex: ex-petista, ex-comunista, ex-tudo. Não gosto disso, dessa gente que está muito próxima do fanatismo, que parece pertencer a uma tribo e que quando rompe sai cuspindo fogo. Eleitoralmente, se eles crescerem, vão crescer para cima do PT e eventualmente ajudar O adversário do Lula.

Papel da mídia: Não acho que a mídia tenha inventado a crise. Mas a mídia ecoa muito mais o mensalão do que fazia com aquelas histórias do Fernando Henrique, a compra de votos, as privatizações. O Fernando Henrique sempre teve uma defesa sólida na mídia, colunistas chapa-branca dispostos a defendê-lo a todo custo. O Lula não tem. Pelo contrário, é concurso de porrada para ver quem bate mais.

quinta-feira, outubro 05, 2006

Imaginem se fosse o contrário...

O jornal O Dia publicou denuncia de distribuição de santinhos no sertão nordestino com o claro objetivo de induzir os eleitores a votarem no candidato a presidente do PSDB, Geraldo Alckmin. Os panfletos foram distribuidos na zona rural e em algumas cidades do sertão pernambucano " com a imegem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o número de urna do candidato tucano.

Os “santinhos” pediam votos para pefelista e para o candidato a senador Jarbas Vasconcelos (PMDB), que se elegeu com 56% dos votos válidos e para o candidato ao governo de Pernambuco pelo PFL, Mendonça Filho, obteve 39,32% dos votos e disputará o segundo turno com o candidato do PSB, Eduardo Campos.

terça-feira, outubro 03, 2006

Ciro entra com tudo na campanha de Lula

O ex-ministro da Integração Nacional e deputado federal mais votado do Brasil nas eleições da semana passada, Ciro Gomes fez nesta segunda-feira os mais duros ataques ao candidato à Presidência, Geraldo Alckmin, e integrantes do PSDB e PFL. Ciro chamou a oposição de "lacerdistas sem brilho" e os acusou de responsáveis pelos mais graves escândalos da história republicana do Brasil.

Um por um, Ciro enumerou os principais escândalos do governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, como a privatização da Telebrás, dos bancos Marka e Fonte Cidam e a compra de votos para a reeleição. Também destacou a formação da organização do Primeiro Comando da Capital (PCC) durante os 12 anos da administração tucana em São Paulo e não esqueceu nem mesmo o episódio dos vestidos doados à dona Lú Alckmin, esposa de Geraldo Alckmin.

Ciro ainda chamou parte da imprensa de facciosa, irresponsável, indecente e alinhada. "O presidente Lula tomou uma estratégia de apresentar o seu governo e fazer uma prestação de contas, mas os seus adversários fizeram essa opção lacerdista, sem o brilho de Carlos Lacerda, de aviltar o debate brasileiro e nisso tiveram o papel coadjuvante de uma parcela interessada da imprensa", afirmou.

"Se a discussão ética tomou o relevo que tomou, vamos tratá-la. Não creio que seja ético explorar escândalos que merecem severa apuração e punição para manipular consciências. Se falha houve, não é razoável que o Brasil seja induzido a esquecer que essa gente da coalizão PDSB e PLF são os responsáveis pelos mais graves escândalos impunes da história republicana do Brasil", atacou.

Ciro Gomes ainda disse que mais de 60 CPIs foram levantadas na Assembléia Legislativa de São Paulo contra o governo de Geraldo Alckmin. "Ele (Alckmin) é um homem decente. Não consigo imaginar a idéia de aviltar uma discussão só porque sou seu adversário e chamá-lo de pilantra, chefe de quadrilha e gângster, como eles têm ousado chamar o presidente da República, num exagero que o segundo turno vai ter que por um ponto final", disse.

Sobre os vestidos dados de presentes a esposa de Alckmin, Ciro disse. "Se as televisões resolvessem escolher isso como tema e comparassem esse assunto com a as roupas rasgadas e os trapos com que a população do sertão do Nordeste ou da favela do Rio de Janeiro vestem, o senhor Alckmin não estaria nem participando do debate."

O ex-ministro disse ainda temer o risco de a população negar legitimidade a Alckmin, caso eleito. "Se o povo farejar que há uma trama da elite para comover a população com expedientes, que sendo graves não são centrais ao destino da nação, a população talvez negue legitimidade ao que ganhar por esse caminho." Segundo ele, a população deve se vacinar contra esses expedientes e não pode ser levar por escândalos de última hora. "A população deve olhar tudo. As instituições republicanas não podem se pôr nem contra e nem a favor no meio do calendário eleitoral", afirmou.

Com informações do Estadão e O Globo

sexta-feira, setembro 29, 2006

"Choque de gestão" de Alckmim pode colocar Cláudio Lembo em cana

Claudio Lembo admite que dificilmente será preso: "Vamos zerar as contas. Além disso, tenho mais de 70 anos. A pena é menor".

A responsabilidade por uma eventual prisão do atual governador não seria exatamente dele. Seria do tal "choque de gestão" do tucano Geraldo Alckmin. O "choque de gestão" de Alckmin no governo do Estado deixou, só até setembro, um rombo de R$ 1,2 bilhão nas contas de São Paulo.

A nova lei - não tão nova, mas que ainda costuma pregar peças em administradores públicos distraidos e/ou mão abertas, prevê a prisão de quem autorizar despesas além de determinado limite.

Enquanto Alckmin continua tentando vender a ideia de um "choque de gestão" nacional, seu desafortunado sucessor está fazendo um baita esforço para cobrir déficits. Na Folha de ontem, quarta, a colunista Monica Bérgamo deu o furo.

Segundo Monica, Lembo determinou aos seus subordinados:

1 - cortem novos investimentos;
2 - diminuam o rítmo das obras em andamento;
3 - tentem aprovar rápído a lei que dá descontos nas multas e nos juros dos devedores do ICMC ( Lembo espera que, com essa medida, São Paulo arrecade algo em torno de R$ 700 milhões).
4 - façam uma blitz gigante sobre os 500 maiores devedores do IPVA do Estado.

Só assim, Lembo conseguirá pagar o "choque de gestão" de Alckmim.


Fonte: Blog do Tao

Coordenador da campanha: "Foto foi vendida"

"A denúncia que nós temos é que essa foto foi vendida, e nós vamos averiguar isso. Parece mais uma armação no estilo seqüestro de Abílio Diniz em 1989", aifrma Marco Aurélio Garcia, assessor especial do presidente da República e coordenador da campanha de Lula à reeleição.

O delegado Edmilson Pereira Bruno é o suspeito de ter vazado as imagens. Ontem, na instituição onde está depositado o dinheiro, enquanto os peritos fotografavam, ele sacou sua câmera e também fez fotos. Hoje pela manhã, no que foi considerada uma encenação, o delegado procurou superiores e informou: "Estou desesperado. Pegaram uma cópia da foto que eu havia feito".

Fonte: Terra Magazine

quinta-feira, setembro 28, 2006

Previsão do Mino Carta

"Dizem as pesquisas que Lula está em queda, embora de leve. Abalo-me a uma previsão, coisa de jornalista metido (petista não sou, atentem): o presidente ganha no primeiro turno, por margem maior do que se supunha até ontem."

Reproduzido do blog do Mino

Após suspense Lula decide não ir ao debate da Globo

Analisando as últimas pesquisas que confirmam estabilidade na corrida presidencial e não se esquecendo de 1989, o presidente Lula decidiu não ir ao debate. Obviamente o presidente só tinha a perder comparecendo, agora resta saber se sua ausencia será prejudicial ao ponto de levar as eleições ao segundo turno. Vale lembrar que em Minas, um dos estados de peso nas eleições, também não contou com Aécio Neves, lider nas pesquisas locais.

Segue a nota divulgada pela acessoria de Lula:

Venho agradecer, respeitosamente, o convite desta emissora para participar do debate sobre as eleições presidenciais, marcado para hoje. Sou um dos políticos que mais participou de debates eleitorais neste país. No entanto, é fato público e notório o grau de virulência e desespero de alguns adversários, que estão deixando em segundo plano o debate de propostas e idéias, para se dedicar, quase exclusivamente, aos ataques gratuitos e agressões pessoais.

Tenho demonstrado, em toda a minha vida, compromisso com os princípios democráticos e disposição para enfrentar qualquer tipo de debate. Somente na Tv Globo, participei de três entrevistas ao vivo no "Jornal Nacional", no "Jornal da Globo" e no "Bom Dia Brasil" com perguntas livres e contundentes. O tom polêmico destas entrevistas, e a maneira como me comportei, demonstram que não tenho receio de enfrentar o debate franco e democrático. Não posso, porém, render-me à ação premeditada e articulada de alguns adversários que pretendiam transformar o debate desta noite em uma arena de grosserias e agressões, em um jogo de cartas marcadas.

Aproveito para reafirmar o meu respeito à TV Globo e parabenizá-la pelo trabalho isento que vem fazendo na cobertura destas eleições.

Atenciosamente,
Luiz Inácio Lula da Silva

PSDB e os Sanguesugas

Construtoras do empresário Abel Pereira estão entre as maiores devedoras da Prefeitura de Piracicaba (SP) e respondem a processos de execução fiscal movidos pela Procuradoria do município. Mesmo assim, venceram licitações para executar obras na gestão do prefeito Barjas Negri (PSDB).

A Polícia Federal e a CPI dos Sanguessugas investigam a ligação entre Abel e Barjas, ministro da Saúde no governo de Fernando Henrique Cardoso.

A família Vedoin (dona da Planam) diz que pagou propinas a Abel para obter liberação de recursos do Ministério da Saúde durante a gestão Barjas -que era secretário-executivo de José Serra (PSDB) e o sucedeu no cargo em 2002.

A Prefeitura de Piracicaba move 35 processos por execução fiscal contra Abel, além de seis contra a Construtora e Pavimentadora Cicat Ltda. e um contra a Cicat Construção Civil e Pavimentadora Ltda., empresas das quais Abel é dono.

A Cicat aparece três vezes na lista da Câmara Municipal de Piracicaba com as maiores devedoras da prefeitura. As empresas que têm o nome Cicat devem um total de R$ 672,1 mil.

A Construtora e Pavimentadora Cicat Ltda. é a 108ª maior devedora, com uma dívida de R$ 395,8 mil. Já a Cicat Construções Civis e Pavimentação Ltda. aparece na 312ª colocação com R$ 138,1 mil devidos.

Em uma outra lista da Câmara, na qual estão as 122 maiores devedoras -mas com dívidas parceladas-, aparece novamente a Cicat Construções Civis e Pavimentação Ltda., com R$ 138,2 mil a serem pagos.

No entanto, a Construtora Cicat ganhou uma licitação para executar uma obra neste ano orçada em R$ 450 mil. Quatro empresas da família de Abel doaram R$ 60 mil para a campanha de Barjas em 2004, entre elas, as duas Cicat.

A Concivi, que pertence a um irmão e a um primo de Abel, também é processada pela prefeitura por causa de dívidas, mas já ganhou ao menos 35 licitações entre 2005 e 2006.
O advogado de Abel, Sérgio Pannunzio, disse que as empresas conseguem participar e vencer as licitações porque os processos de execução fiscal contra elas estão sub judice, por causa de recursos, e com isso obtêm certidões favoráveis. Barjas não se pronunciou.

FONTE: Folha de São Paulo

quarta-feira, setembro 27, 2006

Teses equivocadas sobre o voto em Lula

por Marcos Coimbra

A quinta rodada da pesquisa CartaCapital/Vox Populi, realizada, entre 16 e 19 de setembro, a apenas dez dias da eleição, confirma os principais resultados das que fizemos nas últimas semanas, daqueles de nossa rodada anterior, nos dias 26 e 27 de agosto, e das realizadas por outros institutos no mesmo período: o favoritismo de Lula e as grandes chances de ele vencer as eleições no primeiro turno.

Lei Pelé.

O preconceito de que o eleitor não sabe votar é a base para muitos dos erros de análise O favoritismo do presidente permanece e até aumenta, se consideramos que o tempo é cada vez mais curto para seus adversários. Com três quartos do horário eleitoral já transcorridos, não houve qualquer redução de sua vantagem sobre a soma das intenções de voto nos demais candidatos. Em agosto, contra os 50% de Lula, somavam 36% seus adversários; nesta última pesquisa, ele tem 51% e os outros, juntos, 34%.

Por outro lado, reforçou-se a tendência à consolidação das intenções de voto em Lula, que vinha acontecendo desde os primeiros dias, após o começo do horário eleitoral: no fim de agosto, a relação entre voto espontâneo e estimulado já era muito alta, de 86%, e agora chega a 90%, sugerindo que apenas um em cada dez eleitores que pensam votar Lula é “menos definido”, o que se confirma com os 86% que afirmam estar “decididos e não pretendem mudar de idéia” sobre esse voto.

Lula está melhor hoje que, por exemplo, Fernando Henrique em meados de setembro de 1998, quando faltavam poucos dias para a sua reeleição. Em pesquisa nossa de então, FHC tinha 41% na espontânea e 49% na estimulada, índices inferiores, ainda que pouco, aos que Lula alcança nesta pesquisa.

Será que os acontecimentos dos últimos dias, com as novas trapalhadas de petistas dentro e fora do governo, vão mudar esse favoritismo? Será que o “dossiê” contra Serra, com suas ridículas maquinações e personagens, vai atingir o presidente? Pode-se dizer, com segurança, que, passados os primeiros três dias com o assunto em pauta, nada ocorreu. Se daqui para a frente algo vai acontecer, só nos resta esperar para saber. Entretanto, somos livres para especular.

Pessoalmente, acredito que Lula continua favorito para ganhar as eleições no dia 1º de outubro, pela simples razão de que ele tem já, por tudo que as pesquisas indicam, um número de eleitores decididos amplamente suficiente para isso. Ou seja, as pessoas que dizem ter certeza de que vão votar em Lula bastam, mesmo se desistirem todos os que apenas quando estimulados optam por seu nome, chocados pelo assunto do “dossiê”.

Os “decididos” por Lula chegaram a essa conclusão depois de um longo período de consideração, que foi amadurecendo desde quando, com o “mensalão”, tiveram de pensar se era mesmo em Lula que iriam votar nas eleições de 2006. Para chegar à conclusão que dizem ter chegado, tiveram de pensar muito e avaliar denúncias até mais graves que as de hoje, pois envolviam diretamente o governo e pessoas muito mais centrais que o submundo atualmente em discussão. Se aqui chegaram “firmes”, não parece ser pelo que estão ouvindo agora, quando faltam dez dias para a eleição, que vão mudar. Tudo isso, é claro, se forem as que conhecemos as “novas denúncias”.

Talvez seja a hora, então, de nos perguntarmos qual a natureza do voto em Lula, porque tanta gente diz pretender votar nele, tanta, que tudo aponta para sua vitória em primeiro turno. Mais que um exercício acadêmico, isso pode ser essencial para que saibamos, como País, tirar das eleições que se avizinham aprendizagem e conseqüências, seja para o próximo quadriênio, seja para o futuro.

Parece-me que o primeiro passo é desfazer alguns equívocos que, a meu ver, têm impedido a adequada compreensão do que são e de como se formaram as intenções de voto em Lula. São cinco as principais teses equivocadas, que circulam quase desimpedidas no discurso de ampla porção de nossas elites, na sociedade e entre “formadores de opinião”:

1ª - O voto em Lula é um voto “cínico”

É impressionante como essa suposição está presente nas opiniões e avaliações sobre a provável vitória de Lula este ano. Desde leigos a pessoas que se acham muito informadas, passando por eleitores que, eles próprios, pensam em votar no presidente, forma-se o sentimento de que é o “cinismo” do eleitor que explica o fato de Lula estar à frente. Subjacente a essa idéia, parece estar o argumento que, para quem pretende votar em Lula, ética, moral, respeito às leis, são palavras sem sentido. Aceitar Lula é, assim, aceitar o vale-tudo e o jogo sujo, seja por concordar com ele, seja por não acreditar que exista alternativa.

Quem vê os eleitores de Lula dessa maneira não tem idéia de como foi traumático, para a quase totalidade deles, o “mensalão” e tudo que com ele veio à tona. Aquelas denúncias levaram os eleitores a uma revisão profunda de suas opiniões sobre o presidente e o PT, com a qual se debateram durante meses. Quem, como nós, acompanhou esse processo, através de inúmeras pesquisas, qualitativas e quantitativas, sabe que muitos desses, incluindo eleitores que sempre haviam votado Lula, hoje estão pensando em votar nos demais candidatos. Outros, como as mesmas pesquisas mostram, decidiram-se por Lula, mas nunca ignorando ou menosprezando o “mensalão”.

O voto em Lula não é, portanto, um voto de quem “não está nem aí” para a ética. Lula está sendo votado apesar do “mensalão” e não porque o “mensalão” é irrelevante para seus eleitores.

2ª - O voto em Lula é um voto “burro”

Quando procuram “explicar” as razões de uma vitória de Lula, muitas pessoas em nossa elite ficam perplexas com a “burrice” do eleitor, que não consegue entender o “mensalão” e “tudo o que ele quer dizer” sobre Lula e seu governo. A isso se agrega a visão de que eleitores educados não votam Lula, sendo apenas entre analfabetos que está sua intenção de voto.

Os dados dessa e de muitas outras pesquisas não mostram isso, ao contrário. Lula não perde de Alckmin em nenhum nível de escolaridade e, em seu pior desempenho, empata com ele entre pessoas com escolaridade mais alta. Ou seja, há tantos eleitores com educação superior pensando em votar Alckmin, quanto em Lula.

Quanto ao argumento da “incapacidade de entender o mensalão”, o que estamos vendo é que muitos eleitores, sem desconhecê-lo (e sem achar que é irrelevante), apenas não fizeram aquilo que a oposição a Lula, ao que parece, queria que fizessem: que julgassem Lula e seu governo com o único critério do “mensalão”. Assim procedendo, ou seja, se recusando a uma avaliação tão simples e unidimensional, revelaram-se capazes de um julgamento mais “sofisticado” e complexo, tudo menos “burro”.

3ª - O voto em Lula é um voto “manipulado”

Uma terceira maneira de desqualificar o voto de eleitores que pensam em Lula é dizer que é um voto “manipulado” por mistificações de vários tipos, da comunicação e do marketing, mas, especialmente, do Bolsa-Família, o “mensalinho” dos muito pobres, como se chegou a dizer.

Essa tese não se sustenta em nada de sólido. As evidências de que o Bolsa-Família “explica” o voto em Lula nas famílias beneficiárias, ao contrário, são muito frágeis. Para sustentar o argumento, seria necessário mostrar, por exemplo, que eleitores de famílias análogas, mas onde não há beneficiários, votam de maneira significativamente diferente, coisa que, até agora, não foi demonstrada com adequado rigor.

Se, no plano individual, a prova é, no mínimo, inconclusiva, no plano coletivo é menos ainda. Se fosse verdade que o programa tem esse tipo de impacto, seria razoável esperar que, em cidades onde a cobertura é maior, a propensão a votar em Lula aumentasse, seja por haver mais beneficiários diretos, seja por haver ganhos indiretos (no comércio, especialmente) que seus habitantes creditassem a ele.

Com base em pesquisas como as que fazemos, nós e os demais institutos, não se pode dizer isso, nem de longe. O que temos, quando classificamos os municípios incluídos em nossa amostra em categorias de cobertura, indo de “baixa”, “média”, “alta” a “muito alta”, é que todos os tipos de município tendem a votar de maneira semelhante. Ou seja, não há qualquer relação entre viver em municípios de “baixa” ou “muito alta” cobertura e votar ou não votar em Lula.

O Bolsa-Família é importante fator de voto em Lula, ainda que menos, para o eleitorado popular, que a política de salários e de preços que, em seu entender, o governo pratica e que é boa. Ambos são uma confirmação do que mais esperavam de Lula como presidente, por tudo o que ele tinha sido na vida: alguém que ia fazer diferença exatamente aí, nas condições de vida dos mais pobres. O Bolsa-Família é muito mais significativo como símbolo, do que como a “esmolinha” que muitos imaginam que é. O programa é a promessa cumprida, o compromisso básico que Lula honrou.

4ª - O voto em Lula é um voto “nordestino”

Das teses não substanciadas sobre o voto em Lula, a que mais facilmente se desmente é a que afirma que “Lula ganha por causa do Nordeste”, por isso se entendendo que sua vitória seria uma oposição entre o Brasil “moderno” e o “atrasado”. Na fantasia de alguns articulistas, trazendo riscos de chegar à “ruptura” entre os dois.

Uma simples observação da tabela abaixo mostra que essa idéia não se sustenta: Em outras palavras e ao contrário do que imaginam muitos: Lula parece ter condições de vencer as eleições no primeiro turno, com ou sem o voto do Nordeste. É fato que ele tem muitos votos na região, mas também é verdade que ele é votado, e muito, no que essas pessoas pensam ser o Brasil “moderno”.

5ª - O voto em Lula é um voto de “miseráveis”

A última de nossas teses equivocadas (que poderiam ser até mais, tantas são as concepções sem fundamento atualmente em curso) é outra em que nossa elite parece acreditar piamente: Lula vai ser eleito pelos “miseráveis” e contra a vontade do resto do País.

A base para esse equívoco é a apressada leitura de resultados de pesquisas, amplamente propagadas por parte da imprensa, que mostrariam que Lula perde “de muito” nas classes de renda mais alta, mas compensa esse “fracasso” com alta intenção de voto entre os muito pobres. Entre esses (e aí este se liga ao equívoco anterior), Lula vence, pois “comprou” seu voto com as migalhas que distribui.

Qualquer profissional de pesquisa sabe que tirar conclusões de subamostras muito limitadas não é admissível. Na maior parte das vezes, no entanto, é isso o que ocorre: em uma amostra nacional com 2 mil entrevistas (qualquer que seja o tamanho de eventuais expansões estaduais), entrevistados de famílias com mais de dez salários mínimos de renda, são cerca de cem, se não se fizer uma cota específica. Em um estrato desse tamanho, a margem de erro pode passar de 30%, tornando qualquer interpretação puro exercício de fantasia.

Para indicar quão frágil é o argumento, podemos ver na tabela abaixo o resultado das respostas sobre intenção de voto entre pessoas com esse nível de renda, em uma amostra cumulativa com cerca de mil entrevistados, ou seja, com tamanho adequado:

O que os dados mostram é que Lula e Alckmin estão muito próximos na intenção de voto desse tipo de eleitor, a rigor empatados, na margem de erro, nacionalmente. Não há, portanto, razão para dizer que o voto em Lula é “miserável”. Considerando apenas os segmentos com renda relativamente mais elevada, ele tem tantos votos quanto o candidato do PSDB.

PF abre investigação sobre empresário ligado a tucanos na compra de Dossiê

O delegado da Polícia Federal em Cuiabá (MT), Diógenes Curado Filho, abriu ontem (26) inquérito para investigar a participação do empresário Abel Pereira, ligado aos tucanos Barjas Negri e José Serra, na montagem e compra de dossiê que comprovariam a participação de políticos do PSDB e outros partidos no esquema de venda superfaturada de ambulâncias.

Abel Pereira foi citado no depoimento de Luiz Antônio Vedoin como um dos intermediadores na compra do dossiê. Segundo a Polícia Federal, Abel também foi citado nos depoimentos de Osvaldo Bargas, Expedito Veloso e Jorge Lorenzetti. Os três teriam dito que Abel esteve em Cuiabá na época da negociação do dossiê. O empresário ainda é acusado de ter sido beneficiado em licitações pelo ex-ministro da Saúde Barjas Negri (PSDB).

Fonte: Agencia Brasil

O "choque de gestão" de Geraldo Alckmin

O "choque de gestão" de Geraldo Alckmin em São Paulo deixou, só até setembro, um rombo de R$ 1,2 bilhão nas contas do Estado. O governador de São Paulo, Cláudio Lembo, confirma a informação. Há três meses, ele enviou ofício a todos os secretários proibindo novos investimentos e determinando "redobrada atenção do governo" e "rigorosa austeridade nos gastos públicos". Houve também "diminuição no ritmo de velocidade das obras", diz Fernando Braga, ex-assessor especial de Alckmin e hoje secretário de Planejamento. Só a suspensão de novos gastos não será suficiente para enquadrar as contas paulistas na Lei de Responsabilidade Fiscal.

Fonte: Folha de São Paulo

segunda-feira, setembro 25, 2006

Muito estranho...

Essa saiu no Globo Online:

"...Em entrevista na tarde de sexta-feira, o delegado Edmilson Pereira Bruno, da PF, insinuou a possibilidade de armação dos tucanos, visto que uma equipe da campanha de José Serra, candidato do PSDB ao governo de São Paulo, estaria aguardando na sede da PF, antes mesmo de qualquer órgão de imprensa, a prisão de Valdebran Padilha e Gedimar Passos. Momentos depois da prisão e antes mesmo da chegada da imprensa, já havia dois carros da produtora dos programas de TV do PSDB, atingido pela divulgação do dossiê. Na coletiva desta sexta, a equipe de filmagem também estava presente. O delegado Bruno, que conduziu as investigações e as prisões, disse não saber por que a equipe tucana já estava na sede da PF em São Paulo antes da chegada da imprensa. O delegado disse que, como não está mais no caso, não vai apurar se houve algum tipo de informação privilegiada. Em Brasília circula a hipótese de que o dossiê tenha sido um armação para atrair os petistas..."

Fonte: RS Urgente

sexta-feira, setembro 22, 2006

Pobreza cai e atinge o menor patamar de toda série histórica segundo FGV

De acordo com pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o nível de pobreza teve uma queda significativa durante os três primeiros anos do governo Luiz Inácio Lula da Silva.

A pesquisa, coordenada por Marcelo Neri, chefe do Centro de Políticas Sociais da FGV, mostra que a pobreza caiu de um nível de 28,2% dos brasileiros em 2003 para 22,77% em 2005. Esse é o menor patamar desde que a pesquisa começou a ser feita, em 1992.

A queda expressiva, segundo a FGV, deve-se ao crescimento do emprego e da renda, à elevação da concessão de benefícios sociais como o Bolsa-Família, ao aumento de gastos previdenciários e aos reajustes do salário mínimo.

com informações da Folha de São Paulo

segunda-feira, setembro 18, 2006

Desigualdade cai sem achatar a classe média

Renda subiu 5,74% entre os 10% mais ricos em 2005, após estagnação em 2004 e recuos anteriores. A desigualdade social vem diminuindo aos poucos nos últimos dez anos, mas em 2005, pela primeira vez no período, a classe média não teve sua renda achatada, como acontecia desde 1996. No ano passado, os 10% mais ricos aumentaram a renda média de R$ 3,429 mil (2004) para R$ 3,6 mil, segundo o IBGE. Cálculo da FGV para este jornal mostra que a renda per capita subiu 5,74% entre os 10% mais ricos em 2005, após ficar estagnada em 2004 e de recuar nos anos anteriores.

"O bolo cresceu com mais fermento para os mais pobres, mas os ricos também se beneficiaram desta vez", diz Marcelo Côrtes Neri, chefe do Centro de Estudos Sociais da FGV. A renda per capita dos 50% mais pobres subiu 8,56%, semelhante ao de 2004, de 8,34%. Os 10% mais ricos, por sua vez, viram a renda per capita crescer apenas 0,68%, após recuar 7,32% em 2003 e 0,68% em 2002.

Fonte: Gazeta Mercantil

Recordar é viver: a tradição da direita brasileira é golpista

Lula lidera as pesquisas. A eleição está resolvida? Recentes acontecimentos recomendam atenção para um velho hábito da direita brasileira: o golpismo. Ao longo do século XX, o país teve duas experiências de governos com pendores populares. Uma delas acabou com o suicídio do presidente. A outra foi abortada por um golpe militar. A terceira experimenta alguns fenômenos que se repetiram nas duas primeiras.

PORTO ALEGRE - De maus modos também se morre. Essa frase tem vários significados. Entre eles, várias expressões de maus modos. Entre elas, a falta de atenção sobre o que acontece ao nosso redor. Nos últimos dias, uma série de "acontecimentos" aumentaram a temperatura do ambiente político brasileiro. As aspas que cercam os acontecimentos pretendem justamente chamar a atenção para o que pode estar, de fato, acontecendo. Uma mínima dose de razão prudencial recomenda uma certa dose de suspeita em relação à idéia de coincidência. A temperatura política aumentou desde a última sexta com as notícias do suposto envolvimento da gestão de José Serra no Ministério da Saúde, durante o governo FHC, com o esquema das sanguessugas e suas formidáveis ambulâncias super-faturadas. O "acontecimento" aí, rapidamente, sofreu uma transmutação: tornou-se uma "investigação sobre o suposto envolvimento de petistas em uma armação contra José Serra".

A realidade dos "acontecimentos" tem uma dimensão seletiva na mídia. Alguns "acontecimentos" são mais "acontecimentos" do que outros. E merecem qualificação diferenciada: as denúncias contra Serra rapidamente são descritas sob o guarda-chuva da "armação". Um desses "acontecimentos" merece atenção menor. O ministro da Controladoria Geral da União (CGU), Jorge Hage, disse sexta que os escândalos de corrupção investigados pela CGU começaram em governos anteriores. E acrescentou que as denúncias envolvendo ministros de governos passados, como José Serra, devem receber o mesmo tratamento das denúncias que envolvem integrantes e ex-integrantes do governo Lula, como o ex-ministro da Saúde, Humberto Costa. Esse "acontecimento" teve um destaque muito menor na mídia. No final de semana, as manchetes falavam das investigações da PF para apurar o envolvimento de petistas em uma "armação" contra Serra.

"Quadro de horror e opressão"

No final da tarde de domingo, somos informados de mais um "acontecimento". Três ministros do TSE tiveram seus telefones grampeados. Entre eles, o presidente do Tribunal, ministro Marco Aurélio Mello. Uma nota do TSE anuncia a convocação de uma coletiva para a manhã de segunda-feira. Antes do anúncio de qualquer investigação sobre o caso, o ministro já antecipa algumas opiniões na imprensa. "Se partiu de um particular, político ou do crime organizado, é condenável. Mas se partiu do Estado mostra que quadro de horror e opressão estamos vivendo. Um ministro do Supremo ser bisbilhotado é uma coisa inimaginável", declarou Marco Aurélio Mello à Agência Globo. A declaração do ministro mal consegue disfarçar sua visão sobre a conjuntura atual: estaríamos vivendo um quadro de horror e opressão. A caracterização do presidente do TSE não é exatamente nova.

Na semana passada, Marco Aurélio Mello declarou que a reeleição é péssima para a democracia. Se, por um lado, o instituto da reeleição é um problema sério que deve ser discutido, por outro, a declaração, no contexto da campanha eleitoral, significa que o presidente do TSE recomenda à população que não vote nos candidatos que disputam a reeleição, entre eles o presidente. Não custa lembrar: não é atribuição do presidente do TSE dizer à população em quem deve ou não votar. Tampouco é atribuição de um magistrado antecipar opiniões sobre uma investigação que ainda será iniciada. A pressa em indicar possíveis culpados indica uma ansiedade singular. Uma ansiedade em tornar um "acontecimento" o "quadro de horror e opressão que estamos vivendo". E qual é exatamente esse "quadro de horror e de opressão"? Do ponto de vista político, é o quadro de um cenário eleitoral que aponta para a reeleição do atual presidente do país.

Repetição e memória

Não é a primeira vez que esse quadro ocorre. E, em se tratando de repetições, a memória costuma ser uma boa conselheira. No dia 27 de setembro de 1998 a Folha de São Paulo publicou uma entrevista realizada com o então Presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Ilmar Galvão, onde este expressou publicamente seu apoio a reeleição do então presidente Fernando Henrique Cardoso. O presidente do TSE afirmou: "Se eu fosse Congressista, nunca aprovaria a reeleição para Governador e Prefeito. Quando muito, para Presidente da República, em uma conjuntura como a atual, em que a permanência do Presidente da República é um fato indispensável para a manutenção e para consolidação do modelo econômico que foi implantado no Brasil." A entrevista não ganhou grande repercussão nos noticiários televisivos. A oposição exigiu que o ministro se retratasse publicamente, mas Galvão não se abalou com o episódio, limitando-se a dizer que havia sido mal interpretado pela imprensa.

Na época, a comissão de Defesa da Ética na Política da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) divulgou nota oficial lamentando o ocorrido e manifestando temor pelo bom andamento das eleições. A comissão concluiu que cabia ao ministro Ilmar Galvão avaliar se o episódio havia abalado a necessária imparcialidade de sua atuação na condução das eleições. O caso foi de extrema gravidade, pois mostrou um Ministro do TSE, presidente da última instância judiciária eleitoral, declarando sua preferência eleitoral sem qualquer constrangimento. Não houve nenhum escarcéu na mídia, muito pelo contrário. Reinou o silêncio. O máximo que se viu foi um pedido de exame de consciência por parte da OAB. Nunca é demais lembrar: o papel da justiça eleitoral é trabalhar para garantir a licitude do pleito de forma imparcial e obedecendo a legalidade vigente. Esse princípio básico foi desrespeitado de forma escancarada. E ficou tudo por isso mesmo.

A geografia seletiva do mar de lama

Ficou tudo por isso mesmo. Essa é uma expressão familiar à história política do Brasil. Ao longo do século XX, o país teve duas experiências de governos com pendores populares, com todos os seus limites e contradições. Um deles acabou com o suicídio do presidente da República. O outro foi abortado por um golpe militar. A terceira dessas experiências, que estamos vivenciando agora, curiosamente experimenta alguns fenômenos que se repetiram nas duas primeiras. O "mar de lama" parece só vir à tona no país quando um governo com algum grau de comprometimento popular chega ao poder. Isso aconteceu também em escala regional. A mais importante experiência de um governo estadual de esquerda no país, o governo Olívio Dutra, no Rio Grande do Sul, foi atravessada por denúncias de corrupção e de envolvimento com "a máfia internacional da jogatina". Este governo enfrentou uma CPI da Segurança Pública, tão pródiga em denúncias quanto em falta de provas, o que resultou no arquivamento das primeiras pelo Ministério Público.

O quadro então é este. Qualquer governo que tenha um cheiro de esquerda, por mais tênue que seja, é logo acusado de estar patrocinando um "mar de lama". Os outros governos, com cheiro, gosto e cor de direita, seriam expressões de moralidade pública. Considerando o tempo histórico que uns e outros governaram esse país, chega-se à conclusão que os problemas do Brasil devem-se aos poucos anos que governos com algum pendor popular estiveram no poder. Neste domingo, o presidente nacional do PFL, o senador banqueiro Jorge Bornhausen (PFL/SC), defendeu a cassação do registro da candidatura do PT. Bornhausen que, recentemente, expressou o modesto desejo de "se ver livre desta raça por 30 anos", afirmou: "Como sempre, o PT vive no submundo do crime, da falcatrua, da chantagem e do uso do dinheiro público". Outro grande líder democrata do país, o senador Antônio Carlos Magalhães (PFL/BA), chamou o presidente Lula de "rato". Seu currículo de serviçal da ditadura militar e suas recentes declarações defendendo uma nova intervenção dos militares na vida política do país (clique AQUI para ver), devem ser vistos, talvez, como acidentes de percurso.

Mas o que a história do país mostra é que não há acidentes de percurso. Mostra que deve-se desconfiar daquilo que se apresenta como coincidência. Mostra que deve-se levar a sério esses últimos acontecimentos, com ou sem aspas, como uma boa maneira de dar conseqüência ao que está se passando ao nosso redor. A mescla de silêncio e seletividade midiática é um sinal de alerta mais do que suficiente. De maus modos também se morre. A falta de memória e a desatenção estão nessa tenebrosa lista, em que o golpismo se imiscui, para dizer quem pode e quem não pode, governar, e quem pode e quem não pode, ter direitos. Ao longo da história, a imprensa brasileira não sobrevoou esses "acontecimentos" como um anjo que olha, compassivo, os acontecimentos terrenos. Pelo contrário, sempre foi um protagonista ativo, com lado definido. O fato de silenciar sobre o engajamento escandaloso de um presidente do TSE em um processo eleitoral, como ocorreu durante o governo FHC, não é acidental. A única coisa acidental que pode haver aqui é a falta de atenção.

O fim da era da pedra no lago

Não custa lembrar então um fenômeno novo nesta relação da mídia com a sociedade. Um fenômeno apontado pelo jornalista Franklin Martins em recente entrevista à revista Caros Amigos. Segundo ele, estamos vivendo um fenômeno novo importantíssimo na vida política brasileira do qual as pessoas ainda não se deram conta: o fim da era da pedra no lago. Ele explica: "Nós tínhamos um padrão de comportamento que vem desde o final da luta contra a ditadura. Produzia-se um fenômeno político, a classe média formava uma opinião a respeito e essa opinião se estendia para a periferia. Como a pedra no lago: caiu a pedra na classe média, formando ondas concêntricas para os lados. A classe média era a dos chamados formadores de opinião, você os conquistava, tinha resolvido a parada. Ao que assistimos nessa crise do mensalão? A classe média formou a convicção de que o governo estava tomado por uma quadrilha, por uma bandidagem, etc. – não estou discutindo se isso é verdade ou não -, ela formou essa convicção, bateu a pedra no lago..."

"...as ondas começaram, daqui a pouco...bateu em algum lugar, tinha um dique, e as ondas começaram a voltar. Bateu onde? Bateu na classe C. É o pessoal que ganha de dois a cinco salários mínimos que olhou e disse: "Espera um instantinho, não é bem assim, eu penso um pouco diferente. Tem roubalheira? Tem. Roubou o governo? Roubou. O Lula é algum santo? Não. O Lula sabia? Acho até que sabia, mas é o seguinte: sempre foi assim e a minha vida está melhor hoje em dia, quero discutir isso também. O BNDES anunciou um plano para financiamento de 300.000 computadores até o valor unitário de 1.400 reais. Pra onde eles vão? Para a classe C. Seis milhões de pessoas foram incorporadas à classe C segundo as estatísticas, foi manchete de todos os jornais. Quer dizer, 10% do mercado brasileiro. Agora que estou melhorando de vida, vocês querem derrubar esse governo?"

Essa é a idéia. E é exatamente por isso que as próximas semanas devem ser pesadíssimas. Os advogados do PSDB apresentam nesta segunda, em Brasília, uma representação ao TSE contra o que consideram "interferência do governo no processo eleitoral". A ação será movida contra o presidente Lula, contra o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos e contra o presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini. Para o PSDB, "há fatos suficientes para a cassação do registro da candidatura de Lula". Com o seu candidato estagnado nas pesquisas, tucanos e pefelistas devem partir para a radicalização nos próximos dias, tentando atingir a candidatura Lula. O objetivo não é necessariamente impedir a vitória de Lula, mas sim inviabilizar um segundo governo. A julgar pelo tiroteio verbal deste fim de semana e pelo surgimento de novas denúncias, acusações e "acontecimentos", os últimos dias da campanha eleitoral serão de tripa na calçada. Se alguém achava que a campanha seria marcada pela "apatia" pode se preparar para fortes emoções. Vai engrossar.

As elites brasileiras não toleram sequer um governo do PT que mistura um Bolsa Família com lucros inéditos aos bancos. As elites brasileiras não toleram não estar no poder. Não toleram a mínima possibilidade de perder espaço de poder. Por isso, nada está resolvido. Nada está ganho. Não há nenhuma vitória garantida. Atenção redobrada é o melhor antídoto contra os maus modos que continuam a nos espreitar.

quinta-feira, setembro 14, 2006

BOMBA: Vedoin diz que pagou propina a Serra no esquema das Sanguessugas

Luiz Antônio Vedoin, dono da Planam e chefe da Máfia dos Sanguessugas, deu entrevista que ocupará sete páginas da próxima edição da revista ISTOÉ. Ele disse que pagou propina a José Serra, na época ministro da Saúde, e a Barjas Negri, secretário-executivo do ministério, para que liberassem grana destinada à compra superfaturada de ambulâncias.

A grana era repassada para os dois pelo empresário do ramo da construção civil Abel Pereira, de Piracicaba, São Paulo. Vedoin apresentou cópias de 15 cheques que diz ter passado para Pereira. E citou o nome de duas empresas nas contas das quais depositou dinheiro a pedido de Pereira:

* Kanguru, uma factoring de São Paulo;
* e Datamicro, empresa da área de informática de Governador Valadares, Minas Gerais.

Fonte: Blog do Noblat

quarta-feira, setembro 06, 2006

Datafolha: tudo igual na corrida presidencial

A boataria correu solta ontem em Brasília. Durante a tarde, o que mais se ouvia no Congresso era o rumor de que novas pesquisas estavam apontando significativo crescimento da candidatura de Geraldo Alckmin. A tática do “bate, doutor” estaria dando seus primeiros frutos. “São pesquisas internas”, deixava escapar um cacique tucano. “Parece que o Datafolha que sai hoje vem com novidades”, complementava um líder pefelista. Quando caiu a noite sobre Brasília, o climão de ansiedade e torcida na cúpula da oposição era tamanho que já havia contagiado áreas próximas, inclusive as dos jornalistas que se deixam contagiar.

Pouco antes das oito e meia, o Jornal Nacional anunciou os números do Datafolha. Foi uma ducha de água fria. A nova pesquisa pode ser resumida com a seguinte frase: tudo igual na corrida presidencial. Lula subiu um ponto (foi de 50% para 51% das intenções de voto), Alckmin permaneceu exatamente onde estava (27%) e Heloísa Helena seguiu na maré vazante (está com 9%, contra 10% de uma semana atrás). Não houve novidades, a não ser que alguém considere novidade o fato da desconhecida Ana-Maria-qualquer-coisa ter superado Eymael e Bivar e alcançado Cristovam, com 1%. Na simulação de um hipotético segundo turno – desnecessária, porque Lula continua vencendo com folga na primeira rodada –, Lula seguiria derrotando Alckmin pelo mesmo placar de uma semana atrás: 55% a 37%.

Mergulhando um pouco mais nos números da pesquisa, porém, dois dados marginais trazem informações interessantes. Primeiro, a percentagem dos que acham o governo Lula ótimo ou bom permaneceu inalterada (48%), mas a dos que o consideram ruim ou péssimo subiu ligeiramente, de 16% para 18%. Segundo, o índice de votos espontâneos em Lula subiu de 38% para 41, o maior já registrado por uma pesquisa do Datafolha (Fernando Henrique, o recordista anterior, no seu melhor momento, às vésperas da reeleição em 1998, havia atingido a marca de 39%).

O primeiro dado parece confirmar aquilo que pesquisas internas da campanha de Lula já haviam captado: os ataques da propaganda de Alckmin contra o candidato do PT não alteraram o ânimo das pessoas dispostas a votar no presidente. Serviram tão-somente para consolidar a parcela dos eleitores anti-Lula que já está com Alckmin. Ou seja, a tática do “bate,doutor” não toma votos de Lula, apenas aumenta a bronca da torcida de Alckmin, o que não é de grande valia a essa altura do campeonato.

O segundo dado deixa claro que o eleitorado de Lula está cada vez mais consolidado, apesar da retomada dos ataques no campo ético. Os especialistas consideram que o voto espontâneo – aquele que está na ponta da língua do eleitor, que dispensa a cartela para dizer quem é seu candidato – é um voto que dificilmente muda. Conclusão: Lula está num patamar muito alto de intenções de votos e dificilmente perderá, nas próximas semanas, uma parcela significativa de seus eleitores.

Assim, estamos nos encaminhando para uma decisão no primeiro turno, a menos que aconteça um fato inesperado e espetacular – “uma bomba atômica”, na imagem de Marcos Coimbra, diretor do Vox Populi.

O fato é que entra semana e sai semana e o quadro continua o mesmo. O que é ótimo para Lula e péssimo para Alckmin.

Reproduzido do site do Franklin Martins