Ao final do debate, conversei com integrantes das equipes dos dois presidenciáveis e, de um lado e de outro, só encontrei vitoriosos. Entrevistei também os coordenadores das duas campanhas: o professor Marco Aurélio Garcia (Lula) e o senador Sérgio Guerra. Ambos estavam satisfeitíssimos com o desempenho de seus candidatos. E a satisfação não era para inglês ver. Parecia sincera.
Não há nada de estranho no fato de que os dois lados tenham ido dormir sentindo-se vitoriosos. Nos debates, a menos que um dos contendores dê uma escorregada monumental, a primeira reação entre seus colaboradores e eleitores é, geralmente, de satisfação. Basta que o candidato tenha cumprido bem o papel que se esperava dele. Se não decepcionou, já está de bom de tamanho. Se surpreendeu positivamente aqui e ali, passa a ser um campeão.
Alckmin, em vez de um picolé de chuchu, mostrou-se um Mike Tyson determinado a derrubar o adversário nos primeiros 45 segundos da luta? Tucanos e pefelistas ficam eufóricos ao ver que ele, finalmente, encaixou-se no modelito de candidato dos seus sonhos. Lula assimilou os golpes no round das denúncias, para, em seguida, partir para o contra-ataque em temas como economia, programas sociais, energia e política externa? É a vez dos petistas sentirem-se no sétimo céu, porque seu candidato mostrou perfil de estadista mais nítido que o adversário.
Tudo isso é compreensível, mas não tem grande peso na evolução posterior dos acontecimentos. Debates raramente provocam mudanças espetaculares no estado de ânimo dos eleitores, a não ser quando um dos candidatos sofre seguidas quedas durante a luta ou é posto a nocaute. O mais comum é que a decisão seja por pontos, nas mãos dos jurados. Nesses casos, os debates são apenas um ingrediente a mais nas campanhas – importantes mas não decisivos. Contribuem para firmar ou enfraquecer conceitos, ressaltar ou amenizar temas, alimentar e balizar as discussões na sociedade. Mas não decidem diretamente o voto da maioria.
No caso do debate de ontem, em que nenhum dos contendores beijou a lona, os dois lados podem sair cantando vitória. Faz parte do jogo proclamar-se vencedor numa luta de resultado incerto. O certo é que as duas campanhas, cada uma a seu modo, ganharam gás com a disputa de ontem. E vão prosseguir com as estratégias traçadas para o segundo turno. Alckmin baterá cada vez mais na tecla da ética, tentando desconstruir o adversário. Lula passará o tempo todo fazendo a comparação entre o que é o seu governo e o que seria um governo do PSDB e do PFL.
Nos dois lados, não há mais tempo para alterar o plano de vôo. A sorte está lançada.
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