A boataria correu solta ontem em Brasília. Durante a tarde, o que mais se ouvia no Congresso era o rumor de que novas pesquisas estavam apontando significativo crescimento da candidatura de Geraldo Alckmin. A tática do “bate, doutor” estaria dando seus primeiros frutos. “São pesquisas internas”, deixava escapar um cacique tucano. “Parece que o Datafolha que sai hoje vem com novidades”, complementava um líder pefelista. Quando caiu a noite sobre Brasília, o climão de ansiedade e torcida na cúpula da oposição era tamanho que já havia contagiado áreas próximas, inclusive as dos jornalistas que se deixam contagiar.
Pouco antes das oito e meia, o Jornal Nacional anunciou os números do Datafolha. Foi uma ducha de água fria. A nova pesquisa pode ser resumida com a seguinte frase: tudo igual na corrida presidencial. Lula subiu um ponto (foi de 50% para 51% das intenções de voto), Alckmin permaneceu exatamente onde estava (27%) e Heloísa Helena seguiu na maré vazante (está com 9%, contra 10% de uma semana atrás). Não houve novidades, a não ser que alguém considere novidade o fato da desconhecida Ana-Maria-qualquer-coisa ter superado Eymael e Bivar e alcançado Cristovam, com 1%. Na simulação de um hipotético segundo turno – desnecessária, porque Lula continua vencendo com folga na primeira rodada –, Lula seguiria derrotando Alckmin pelo mesmo placar de uma semana atrás: 55% a 37%.
Mergulhando um pouco mais nos números da pesquisa, porém, dois dados marginais trazem informações interessantes. Primeiro, a percentagem dos que acham o governo Lula ótimo ou bom permaneceu inalterada (48%), mas a dos que o consideram ruim ou péssimo subiu ligeiramente, de 16% para 18%. Segundo, o índice de votos espontâneos em Lula subiu de 38% para 41, o maior já registrado por uma pesquisa do Datafolha (Fernando Henrique, o recordista anterior, no seu melhor momento, às vésperas da reeleição em 1998, havia atingido a marca de 39%).
O primeiro dado parece confirmar aquilo que pesquisas internas da campanha de Lula já haviam captado: os ataques da propaganda de Alckmin contra o candidato do PT não alteraram o ânimo das pessoas dispostas a votar no presidente. Serviram tão-somente para consolidar a parcela dos eleitores anti-Lula que já está com Alckmin. Ou seja, a tática do “bate,doutor” não toma votos de Lula, apenas aumenta a bronca da torcida de Alckmin, o que não é de grande valia a essa altura do campeonato.
O segundo dado deixa claro que o eleitorado de Lula está cada vez mais consolidado, apesar da retomada dos ataques no campo ético. Os especialistas consideram que o voto espontâneo – aquele que está na ponta da língua do eleitor, que dispensa a cartela para dizer quem é seu candidato – é um voto que dificilmente muda. Conclusão: Lula está num patamar muito alto de intenções de votos e dificilmente perderá, nas próximas semanas, uma parcela significativa de seus eleitores.
Assim, estamos nos encaminhando para uma decisão no primeiro turno, a menos que aconteça um fato inesperado e espetacular – “uma bomba atômica”, na imagem de Marcos Coimbra, diretor do Vox Populi.
O fato é que entra semana e sai semana e o quadro continua o mesmo. O que é ótimo para Lula e péssimo para Alckmin.
Reproduzido do site do Franklin Martins
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