terça-feira, setembro 11, 2007

Manipulação da Informação no UOL

A seguir apresento uma escandalosa manipulação da informação divulgada na capa do UOL, as 10:30 hs do dia 11 de setembro de 2007.

O portal, em sua seção Mídia Global, apresenta a “tradução” de um artigo publicado no Financial Times (FT), em 10 de setembro de 2007.

O UOL manipulou a reportagem do FT transformando a abordagem positiva em relação ao Brasil em um texto negativo. O tradutor (ou editor) simplesmente excluiu partes importantes do texto original, deturpando as conclusões resultantes da leitura.

Em nenhum momento o UOL sugere que o texto estivesse editado, passando a idéia que o mesmo foi publicado conforme texto original do Financial Times.

Link para o artigo “traduzido” pelo UOL: aqui

Link para o artigo original publicado no Financial Times: aqui

Na seqüência, apresento o artigo conforme publicado no UOL (em negrito), destacando, em vermelho, as partes excluídas ou adulteradas na “tradução”. Em italico as partes excluidas.

Brasil deverá revelar melhores números de crescimento
Jonathan Wheatley
Em São Paulo


O Brasil poderá ter uma oportunidade esta semana de afastar sua imagem de vagão lento dos "Bric" - as quatro economias em rápido desenvolvimento. Os números do crescimento no segundo trimestre deverão chegar a 5,5%, mais que o dobro da média dos últimos 15 anos.

Enquanto os outros três - Rússia, Índia e China - há muito vêem suas economias crescerem mais depressa que as de seus pares no mundo desenvolvido, o Brasil tradicionalmente é mais lento, apesar da promessa de um "espetáculo de crescimento" feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva antes de sua eleição em 2002.

Algumas estimativas feitas antes da divulgação dos números, amanhã, vêem o crescimento atingindo até 6,9%, comparado com 3,7% no ano passado.

Mas há uma crescente preocupação sobre um retorno das pressões inflacionárias, e muitos economistas dizem que o governo parece ter abandonado os planos de atacar um índice de gastos que atinge mais que um terço do PIB há vários anos, sugerindo que o ritmo do crescimento poderá desacelerar de novo em médio prazo.

"O crescimento está realmente acelerando", disse Marcelo Salomon, economista-chefe do Unibanco, um grande banco do setor privado. "As coisas estão parecendo muito boas para os consumidores e em termos de investimento. Vai ser uma surpresa positiva".


Unibanco expects growth of 6.1 per cent in the second quarter, towards the top of a range of economists surveyed by Bloomberg, a news agency, last week.

“Unibanco espera um crescimento de 6,1% no segundo quadrimestre, o máximo valor em uma escala de economistas, examinados por Bloomberg, uma agência de notícia, na última semana”

A agricultura, os serviços e a indústria vêm crescendo rapidamente este ano. O investimento foi forte, especialmente entre empresas exportadoras que avançaram com investimentos iniciados no ano passado.

Demand from consumers has also been robust, driven by a high rate of job creation and the rapid expansion and falling cost of consumer credit.
“A demanda dos consumidores também foi robusta, dirigida por uma elevada taxa da criação de emprego e pela rápida expansão e queda do custo do crédito para o consumidor.”

More than 1.2m jobs were created this year to the end of July, while the total amount of credit in the economy has doubled since 2003 to more than R$800bn (£207bn, $420bn, €305bn), or about 35 per cent of gross domestic product.
“Mais de 1.2 milhão de empregos foram criados desde o início deste ano até o fim de julho, enquanto a quantidade total de crédito na economia dobrou desde 2003, chegando a mais de R$ 800 bilhões (£207bn (libras), $420bn (dólar) , €305bn (euro)), ou aproximadamente 35% do produto interno bruto”

For some sectors of the economy this has compensated for the so-called “Brazilian disease”, the loss of competitiveness from the strengthening Real.
“Para alguns setores da economia isto tem compensado a chamada “doença brasileira”, dada pela perda de competitividade devido a valorização do Real.”

Mr Salomon said he expected to revise upwards his prediction of 4.5 per cent growth for the year. But he said growth in the next two or three years would fall back to about 4 per cent, partly as a result of slowing global demand for Brazil’s commodity-led exports in the aftermath of the US subprime lending crisis.
“O Sr. Salomon disse que espera revisar para cima sua previsão de 4.5% de crescimento para este ano. Mas disse que o crescimento nos dois ou três anos seguintes cairá para aproximadamente 4%, em parte devido a redução da demanda global para os produtos brasileiros em conseqüência da crise gerada pelos empréstimos subprime dos EUA.”

Mas há preocupações à frente. A inflação dos preços no atacado em agosto foi de quase 1%, muito maior que a esperada e uma advertência da crescente inflação dos preços ao consumidor nos próximos meses. Números do governo mostraram ontem a inflação no varejo em 3,99%.

Em conseqüência, muitos economistas esperam que o Banco Central interrompa dois anos de cortes nas taxas de juros. Na semana passada ele desacelerou o ritmo recente dos cortes, de 0,5 para 0,25 ponto percentual, levando a taxa Selic para 11,25% ao ano, em vez dos 19,75% de setembro de 2005.

Nevertheless, current conditions are expected to produce enough growth to ensure improvement in key macroeconomic indicators, even in a context of rising public spending.
“Não obstante, nas condições atuais espera-se produzir um crescimento suficiente para assegurar uma melhoria nos principais indicadores macroeconômicos, mesmo em um contexto de aumento da despesa pública.”

The government is expected easily to achieve primary budget surpluses (before interest payments) of about 3.7 per cent of GDP, enough to keep the ratio of debt to GDP on a downward trend.
“O governo espera atingir facilmente o superáviti primário programado (antes do pagamento dos juros), de aproximadamente 3,7% do PIB, o suficiente para manter a relação dívida/PIB em tendência decrescente.”

No entanto, O aumento continuado dos gastos do governo também causa preocupação entre economistas.

“There is no sign at all of a reduction of spending,” said Raul Velloso, a specialist in public finances in Brasília.
“”Não há nenhum sinal de redução de gastos,” diz Raul Velloso, especialista em finanças públicas em Brasília”

“On the contrary, the climate is one of increased spending. New items are appearing all the time.”

““Por outro lado, o clima atual é mesmo de aumento de gastos. Novas necessidades estão aparecendo a toda hora.”

No mês passado Brasília anunciou planos de criar 29 mil empregos no setor público no próximo ano e de contratar mais 27 mil pessoas para preencher cargos vagos.

“Government spending is contributing about 0.8 percentage points to annual growth,” said Sérgio Valle, an economist at MB Associados, a São Paulo consultancy.
“”Os gastos do governo contribuem com aproximadamente 0,8% no crescimento anual”, diz Sérgio Valle, economista da MB Associados, empresa de consultoria de São Paulo.”

He expects overall growth this year of about 5 per cent.
“Ele espera para este ano um crescimento de aproximadamente 5%.”

Tradução” (entre aspas mesmo!): Luiz Roberto Mendes Gonçalves

Um comentário:

Anônimo disse...

Por estas e outras que perdemos a confiança nos orgãos de imprensa do Brasil.