Com o fim das investigações sobre a fase mais complicada do inquérito do mensalão, a Polícia Federal está se preparando para intimar nos próximos dias cerca de 80 políticos, funcionários públicos e empresários acusados de envolvimento com o suposto caixa dois da campanha do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) ao governo de Minas Gerais em 1998. Depois de analisar o caso por três meses, o procurador-geral da República Antônio Fernando devolveu o inquérito à PF, semana passada, e pediu novas diligências para aprofundar as investigações.
A polícia suspeita que o caixa dois foi abastecido com recursos de estatais mineiras e de empreiteiras. Documentos recolhidos pela PF no final do ano passado indicam que a campanha de Azeredo teria movimentado aproximadamente R$ 100 milhões sem declarar à Justiça Eleitoral e à Receita Federal.
Entre os papéis em poder da polícia está um relatório de despesas assinado por Cláudio Mourão, ex-tesoureiro da campanha de Azeredo. O dossiê informa que boa parte dos recursos foi transferida para financiar campanhas de deputados e vereadores, aliados do senador tucano.
Azeredo diz que gastou R$ 8,5 milhões na campanha
Pelas informações já colhidas pela polícia, o suposto caixa dois teve a participação também do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, denunciado como um dos principais operadores do caixa dois petista no inquérito do mensalão.
O senador Eduardo Azeredo foi interrogado pela PF ano passado, logo no início das investigações. O senador disse que nada sabia sobre o suposto caixa dois. Em declaração encaminhada à Justiça Eleitoral, Azeredo sustenta que gastou apenas R$ 8,5 milhões ao longo de sua campanha pela reeleição ao governo de Minas, em 1998.
Com base nas sugestões do procurador-geral Antônio Fernando, a equipe do delegado Luiz Flávio Zampronha fez uma lista com os nomes de 80 pessoas que devem ser ouvidas a partir da próxima segunda-feira. A PF deverá interrogar de novo Marcos Valério, Cláudio Mourão e os políticos que teriam se beneficiado do chamado valerioduto tucano.
O dossiê de Cláudio Mourão chegou à PF pelas mãos do lobista mineiro Nilton Monteiro. No início, o documento foi encarado com reserva. Mas depois que a perícia técnica constatou a autenticidade dos papéis, a PF e o Ministério Público decidiram ampliar a apuração.
Também na semana passada, o ministro do STF, Joaquim Barbosa, relator do caso do mensalão, pediu à PF que interrogue Marcos Valério, a ex-diretora da SMP&B Geiza Dias dos Santos e o banqueiro Daniel Dantas, entre outros. Barbosa quer que eles esclareçam alguns aspectos do valerioduto petista que teriam ficado obscuros na primeira etapa das investigações.
Para a PF, investigação é desdobramento natural
Para a polícia, a retomada das investigações sobre o valerioduto mineiro é um desdobramento natural das investigações sobre o mensalão. Na primeira fase, a PF investigou a movimentação financeira de Marcos Valério de 2002 até o ano passado. Agora, para polícia, chegou o momento de centrar as investigações nos negócios que Valério fez entre 1998 e 2002. Num dos primeiros despachos sobre o caso, o então presidente do STF, Nelson Jobim, determinou que as investigações sobre o mensalão teriam que retroceder às origens do valerioduto.
FONTE: O Globo
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