segunda-feira, março 13, 2006

Máfia: O Comendador e os Tucanos

A revista CartaCapital dessa semana traz uma longa matéria, que detalha os esquemas tortuosos que envolveriam o PSDB/MT e a organização criminosa comandada pelo Comendador Arcanjo, que acaba de ser extraditado do Uruguai, de volta a uma prisão em Cuiabá. Sem dúvida nenhuma essa história ainda vai render.

O COMENDADOR E OS TUCANOS
As ligações entre o senador Antero Paes de Barros, o ex-governador Dante de Oliveira e o bicheiro João Arcanjo

Por Leandro Fortes, de Cuiabá

Na quarta-feira 8, a assessoria de imprensa do senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT) distribuiu um texto intitulado Velhacos e Bestalhões. O documento, um arrazoado de divagações e clichês sobre o governo do PT, conclama o Ministério Público Federal a uma “ação efetiva” contra o que o parlamentar chama de “desrespeito à lei eleitoral”, no caso, a declaração do presidente Lula de que todo político faz campanha eleitoral 365 dias por ano. Trata-se de uma relação dúbia do senador com o Ministério Público. Ao mesmo tempo em que urge providências na esfera federal, Antero vocifera contra outra ação do MP a nível estadual. Tem lá seus motivos.

Um inquérito aberto há pouco mais de dois anos pela Polícia Federal do Mato Grosso investiga as estranhas e lucrativas ligações da cúpula do PSDB regional com o crime organizado local. Não se trata, diga-se de passagem, de uma organização qualquer. O chefe da quadrilha é o banqueiro do jogo de bicho João Arcanjo Ribeiro, o Comendador, acusado de ter ordenado o assassinato de mais de 30 pessoas em Mato Grosso, e o espancamento e mutilação de pelo menos outras 50. Entre 1994 e 2002, diversas empresas ilegais de factoring (empresas que antecipam dinheiro de cheques pré-datados) montadas por Arcanjo serviram para irrigar dinheiro em campanhas eleitorais do PSDB. Apenas na campanha a governador de Antero Paes de Barros, em 2002, foram encontrados 84 cheques de uma factoring do bicheiro no valor total de 240 mil reais.

O assunto, obviamente, transtorna o senador. Em 16 de fevereiro, Antero teve um ataque de nervos em plena CPI dos Bingos, justamente quando era ouvido o juiz Julier Sebastião da Silva, titular da 1ª Vara Criminal da Justiça Federal de Mato Grosso. Convidado pela comissão, Julier teve pouco tempo para explicar o que tem feito em Cuiabá. Na capital mato-grossense, com a ajuda dos procuradores da República Pedro Taques e Mário Lúcio de Avelar, o juiz desmantelou o império de Arcanjo e desnudou as relações do bicheiro com o ex-governador tucano Dante de Oliveira, o senador Antero, o comitê financeiro do PSDB, deputados estaduais e gente graúda da administração estadual.

“Mentiroso, mentiroso!”, berrava Antero Paes de Barros no plenário da CPI dos Bingos, irritado com a explanação constrangedoramente simples dada pelo juiz Julier da Silva, a quem o senador prometeu processar. Aos senadores da comissão, ele disse apenas que dava seqüência jurídica ao processo com base nas provas anexadas aos autos, todas obtidas em ações de busca e apreensão realizadas pela Polícia Federal. Sem saber, procuradores e policiais federais abriram uma Caixa de Pandora de onde saltaram transações de quase 1 bilhão de reais banhados com sangue.

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