Pensei num bom nome, não sei se para uma clínica geriátrica ou um idílico condomínio residencial: Longo Prazo. O nome transmitiria uma idéia de calma e despreocupação em contraste com as premências do cotidiano. De tempo para a contemplação e, no fim, a compreensão de tudo — além, claro, de pagamentos módicos e vida comprida. No Longo Prazo se estaria livre da reação impulsiva, do julgamento automático, da opinião malformada e de todos os outros males da primeira impressão. Você não precisaria imaginar como as coisas seriam vistas a longo prazo, já estaria no Longo Prazo, vendo tudo dentro de um contexto maior. Aliás, Contexto Maior é outro bom nome para um refúgio das tiranias do imediato. “Estou vivendo no Contexto Maior” seria uma maneira de dizer aos outros que você, ao contrário deles, não era mais escravo do noticiário do dia e dos rápidos sentimentos correspondentes. Que estava livre do momento e vivendo na História. O que equivaleria a dizer, vivendo no Futuro, longe desta gororoba, a realidade ainda não digerida.
No Longo Prazo, ou no Contexto Maior, as pessoas discutiriam a atualidade brasileira com distanciamento filosófico. Todas as conversas à beira da piscina do Longo Prazo ou no spa do Contexto Maior seriam filosóficas, intocadas pela paixão ou o preconceito. O que não quer dizer que todas as contemplações chegariam à mesma compreensão. Para alguns, nenhum distanciamento possível absolveria a culpa do PT na sua própria ruína, outros diriam que o que acontece é que a política brasileira chegou ao seu nadir, um ponto com conveniente nome de deputado, que entre os corruptos e os cínicos ninguém se salva e que o que está havendo é uma depuração, um saudável começo de outra coisa, não se sabe bem o quê. Mas, no conforto e no descompromisso do Longo Prazo ou do Contexto Maior, desconfio que uma forte corrente concluiria que só está havendo uma reincidência, um novo capítulo de um velho folhetim, as oligarquias brasileiras defendendo seu direito de fazerem sozinhas a história do país e abatendo, como sempre, qualquer ameaça a esta exclusividade. Uma corrente que poderia se chamar Déjà Vu Esse Filme.
Enquanto não existirem esses oásis de ponderação, a salvo das emoções do dia-a-dia, só se pode especular sobre o que será dito, no longo prazo e num contexto maior, sobre tudo isto. Talvez a distância não adiante e não se compreenda nada, ou se continue a compreender errado. Se há uma coisa que a História do Brasil ensina é que o Brasil não aprende com a sua História.
Fonte: O Globo
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