domingo, fevereiro 19, 2006

A demofobia suicida do PSDB

Na tentativa de desqualificar o apoio que Lula recebe de uma parte da população, o tucanato resolveu esbofetear o eleitorado. Ouça-se o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso:

“Houve uma mudança de sentimento da classe média em relação ao presidente. Ele percebeu e virou o discurso para a massa dos não-informados”.

Ou o grão-tucano Alberto Goldman:

“Os menos escolarizados e menos informados têm dificuldade em aceitar o fato de que seu ídolo tem os pés de barro.”

Tradução: a choldra ignorante é capaz de reeleger Nosso Guia. A mula-sem-cabeça-nem-dinheiro seria o cruzamento do atraso político com a pobreza intelectual e a miséria econômica. Afinal, Lula prevalece no Nordeste (55%) e nas áreas rurais (58,6%). Sua popularidade é alta entre os brasileiros com escolaridade até a 8 série (56,4%) e salários abaixo de cinco salários mínimos (55%).

É direito dos tucanos e de muito mais gente achar que faltam a Lula qualidades convenientes para o exercício da Presidência. Daí a classificar como “menos informados” ou “não-informados” aqueles que o apóiam vai uma enorme distância. A pesquisa CNT/Sensus mostra que junto aos entrevistados com curso superior, seus índices de aprovação (44,1%) e desaprovação (48,8%) são semelhantes. (A margem de erro é de três pontos percentuais.) Na pesquisa do Datafolha, Nosso Guia tem 34% entre os pobres. José Serra tem 33%. Empate, de novo.

O tucanato acha que a escumalha só pensa quando pensa como ele. Em 1994 e em 1998, o andar de baixo elegeu e reelegeu FFHH e o PSDB não viu burros pobres nem pobres burros.

Desqualificar o eleitorado é um bom caminho para perder a eleição. Até aí, tudo bem. O perigo mora mais adiante. Depois que uma liderança política começa a acreditar que a força de seu adversário está no inferno dos ignorantes, acaba duvidando da legitimidade da eleição que perdeu. Assim, em 1950, começou a caminhada dos golpistas de 1964. A vitória de Getúlio Vargas levou seus adversários a formular a teoria da massa ignorante.

por Elio Gaspari

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