sexta-feira, maio 26, 2006

Memória II: Remessa bilionária de dólar

Ana D´Angelo para o Estado de Minas (MG) - 1/5/2005

A Comissão Mista Parlamentar de Inquérito do Banestado foi sepultada, mas os registros dos arquivos de transações do MTB Bank e da empresa de fachada Beacon Hill Service, de Nova York, descrevendo as bilionárias remessas clandestinas de dinheiro para o exterior por meio de doleiros, continuam ardendo como brasa. Numa sala lacrada no Senado, está um relatório que revela operações financeiras realizadas por Ronaldo de Souza, sócio e suposto "testa de ferro" do ex-diretor do Banco do Brasil Ricardo Sérgio de Oliveira, e o empresário Gregório Marin Preciado. Espanhol, naturalizado brasileiro, Preciado é casado com uma prima do prefeito de São Paulo, José Serra, com o qual já fez negócios. Ricardo Sérgio, ex-chefe de campanha de Serra ao Senado, é aquele envolvido no escândalo das privatizações de empresas estatais.

Empresas em paraísos fiscais receberam dinheiro remetido por doleiros brasileiros de empresários como Ricardo Sergio (foto), Preciado e Ronaldo de Souza

Ronaldo de Souza e Preciado aparecem alimentando em US$ 1,4 milhão uma mesma offshore em 2000 e 2001, empresa sediada em paraíso fiscal. A Franton Interprises, localizada nas Ilhas Virgens Britânicas, recebeu US$ 1,2 milhão de Preciado e US$ 200 mil de Souza. No total, foram enviados para a offshore US$ 7,5 milhões originados de diversas contas entre 1998 e 2001 - algumas sem titular identificado. A Franton consta de uma das declarações de Imposto de Renda de Ricardo Sérgio, à qual ele diz remetido US$ 130 mil em 1998.

A Franton é a mesma que também recebeu, em janeiro e fevereiro de 2000, US$ 410 mil de uma outra offshore, a Infinity Trading, que pertence ao grupo Jereissati, do empresário Carlos Jereissati, um dos donos da Telemar. No relatório da CPI, os técnicos que analisaram as remessas para a Franton Interprises afirmam que é preciso a identificação dos beneficiários legais no exterior da Franton para se chegar aos verdadeiros donos do dinheiro. A Franton é apenas recebedora dos recursos, cuja intermediária é a offshore Kundo, de doleiros.

Essas operações via MTB Bank e Beacon Hill, por onde transitam o dinheiro até o beneficiário com intermediação de doleiros, são consideradas clandestinas e ilegais. As remessas referentes a Gregorio Marin Preciado e as ligações de Ronaldo de Souza com Ricardo Sérgio são mencionadas no relatório final da CPI do Banestado feito pelo deputado José Mentor (PT-SP) e enviado ao Ministério Público Federal.

A Beacon Hill, cujo dono era um doleiro da Guatemala com ligação com doleiros brasileiros, foi fechada por autoridades norte-americanas em 2003, que a consideravam a maior lavandeira de dinheiro brasileiro em Nova York. A partir dos registros da Beacon Hill , a Polícia Federal desencadeou no ano passado a Operação Farol da Colina e prendeu mais de 60 doleiros no País. Procurados, Ricardo Sérgio (que estaria na Europa), Ronaldo de Souza, Gregório Preciado e Jereissati não se manifestaram.

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