A economia brasileira encerrou os primeiros três meses crescendo a um ritmo forte e superior aos 4% projetados para a média do ano. E este ritmo deve ficar mais intenso. Ao longo deste segundo trimestre e do terceiro, o Produto Interno Bruto (PIB) vai crescer a uma taxa anualizada entre 5% e 6%, calculam diferentes economistas.
Com os dados da produção industrial do primeiro trimestre, os economistas passaram a projetar o PIB do período, que aponta crescimento entre 1,1% e 1,4% na comparação entre os primeiros três meses deste ano e o último trimestre de 2006, já descontados os fatores sazonais.
Este desempenho significa que o ritmo atual da economia - projetado para 12 meses - já está próximo de 4,5%. E, apesar das divergências quanto ao número, a maioria dos economistas concorda que a economia vai acelerar no segundo e terceiro trimestres. Os preços, por outro lado, devem subir menos que os 4,5% estipulados como meta para o ano de 2006.
O economista Bráulio Borges, da LCA Consultores, lembra da promessa feita pelo ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci a Lula no ano passado e avalia que ela será cumprida. "Ele disse que entregaria uma economia crescendo a 5% na véspera das eleições", comenta. Nas contas da LCA, o PIB do primeiro trimestre cresceu 1,4% em relação ao fim do ano passado, ritmo que se manterá até o terceiro trimestre. Nas contas do economista-chefe da corretora Convenção, Fernando Montero, no terceiro trimestre, o ritmo poderá estar ainda mais forte: 6% ano ano.
A Tendências Consultoria divide as contas por semestre. O ritmo de 3,3% dos primeiros seis meses dará lugar a uma expansão de 4,1% no segundo semestre, sempre em relação a igual período de 2005. Esses resultados, diz Roberto Padovani, são compatíveis com uma evolução de 3,7% no PIB deste ano. "O cenário de renda maior e queda de juros vai se consolidar no segundo semestre, tornando-o mais forte que o primeiro", explica Padovani.
E, olhando de hoje, o crescimento mais acelerado estará acompanhado de uma inflação bastante comportada. As taxas mensais serão positivas e superiores à média de 0,3% dos últimos três meses ao consumidor ou à deflação no atacado. Mesmo assim, o cenário de preços deve ser bem comportado, com ajuda da menor elevação de administrados desde 1998.
A combinação de um crescimento forte com inflação baixa para padrões brasileiros (entre 4,0% a 4,5% dependendo do índice) é rara. Em 2000, o país cresceu 4,4% com uma inflação de 5,97%. Em 2004, os preços subiram 7,6% e o PIB, 4,9%. "Há duas âncoras verdes na economia, a agrícola e a do câmbio valorizado", diz o economista Paulo Picchetti, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fundação Instituto de Pesquisa Econômica (Fipe). Até o fim do ano, no cenário traçado por Picchetti, os preços mantêm uma trajetória semelhante à atual. Nos 12 meses encerrados em abril, os preços dos bens que podem ser exportados ou importados (conhecidos como comercializáveis) acumulam alta de apenas 0,33%.
"O mercado interno estará crescendo, no fim do ano, a taxas superiores à do PIB", diz Montero. Isso já aconteceu no primeiro trimestre. Pelas estimativas da Rosenberg & Associados, a demanda interna respondeu por 3,9 pontos percentuais do crescimento de 4,1% da produção industrial no primeiro trimestre deste ano, enquanto a demanda externa (exportações) contribui com apenas 0,2 ponto. "É crescimento com distribuição de renda", acrescenta Montero.
A Rosenberg, contudo, traça um comportamento distinto da economia nos próximos trimestres. Lygia Freire de Salles, economista da consultoria, espera um recuo de 0,7% do PIB entre o segundo e o terceiro trimestres deste ano. A queda ocorreria na construção civil. "E como o primeiro semestre vem muito forte, é natural que exista uma desaceleração", diz Lygia.
A expansão do gasto público - que fará com que o superávit primário do setor público caia dos 4,83% alcançados no ano passado para no máximo 4,25% - indica que o consumo como um todo ganhou 0,5% do PIB, resume o economista-chefe da Mandarim Gestão de Ativos, Eduardo Velho. "E esse gasto tem efeito multiplicador, ele vai além desse meio ponto", argumenta, lembrando que quem recebe o Bolsa Família ou a aposentadoria R$ 50 maior em decorrência do aumento do salário mínimo vai usar essa renda para consumir. "O segundo semestre vai ser melhor e o governo vai se beneficiar desse cenário benigno", acredita Velho.
Celso Toledo, economista-chefe da MCM Consultores, olha para o cenário com mais cautela. Ele reviu sua projeção para o PIB de 3% para 3,3%, mas diz que a economia pode até crescer 4% . "Se a demanda interna, impulsionada pelo aumento do salário mínimo e da massa salarial crescer entre 4,0% e 4,5%, não descarto a volta de pressões inflacionárias", diz. Ele ressalva que a inflação não voltará a níveis de 7,0% ou 8,0%, mas pode sinalizar uma trajetória acima de 4,5% - que também é a meta de 2007.
do Jornal Valor Econômico
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